Pesquisa comprova uso da batata-doce na geração de álcool
10-08-2015

Estudo inédito no Estado, liderado pela Fepagro, será lançado no início de 2016 

Alimento tradicional da culinária do Rio Grande do Sul, seja cozida, frita ou assada, a batata-doce alcança um novo patamar com pesquisa inédita no Estado, feita pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). Até então restrito à mesa dos gaúchos, o produto, com grande volume de biomassa, passa a também ser transformado em álcool. "É considerado de superior qualidade para componentes farmacológicos, bebidas especiais e combustão", explica o pesquisador Zeferino Genésio Chielle (64), que está à frente do estudo pela Fepagro Vale do Taquari - Centro de Pesquisa Emílio Schenk.
O processo de avaliação do potencial da batata-doce levou cerca de dez anos e contou com a parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que fez as análises em laboratório. A descoberta, por enquanto, permanece sob a tutela da Fepagro, mas tem previsão de lançamento no início do ano que vem, na Expoagro Afubra .
A partir daí, conforme Chielle, o projeto poderá se transformar em realidade se houver interesse político e da iniciativa privada, mas já é uma ideia "semeada" entre os agricultores. "A batata-doce pode ser aproveitada integralmente, tanto a parte aérea como os tubérculos. Muito resíduo é desperdiçado", esclarece o pesquisador. Além disso, o álcool processado a partir da batata-doce é uma bioenergia, por ser totalmente renovável.
No Estado, a matéria-prima, não é o problema, tendo em vista que a cidade de Mariana Pimentel, na região Metropolitana de Porto Alegre, se destaca por ser a maior produtora de batata-doce no Brasil são cerca de mil hectares. "A propriedade agropecuária é uma indústria muito complexa. A evolução e o desenvolvimento dependem da sabedoria do seu dono ou usuário", frisa Chielle.
Outra vantagem do processamento da batata-doce é a quantidade de álcool produzida e a utilização da terra para o cultivo de outros alimentos. De acordo com o pesquisador, uma tonelada de tubérculos pode gerar de 160 a 180 litros de etanol. O principal: tudo isso em quatro meses, que é o tempo do cultivo da batata-doce, do plantio à colheita. "Isso dá três vezes mais do que a cana-de- açúcar por hectare", observa. Em um ano, a batata-doce tem capacidade de processar 27 mil litros, enquanto a cana-de-açúcar tem oito mil.
Farinha e farelo de mandioca e batata-doce
O pesquisador Zeferino Chielle atua na Fepagro Vale do Taquari desde 1978. Mestre em Produção Vegetal, ele se dedica a pesquisar as potencialidades, além da batata-doce, do sorgo, mandioca e agroprocesso.
Além do álcool, ele descobriu, por meio do seu trabalho, que a raiz e a parte aérea da mandioca e da batata-doce podem se transformar em ingredientes como farinha para pão, farelo para ração animal, entre outros. "O objetivo é o aproveitamento integral das culturas para evitar o desperdício, tendo em vista a alta capacidade nutricional de toda a planta", destaca.
Saiba mais
Criado em 1929, o Centro de Pesquisa Emílio Schenk Fepagro Vale do Taquari é um dos mais antigos em atividade no país. Historicamente, foi pioneiro e desenvolveu diversas pesquisas, ações de fomento e ensino principalmente na área de citricultura.
Em 1994 incorporou a área do Parque Apícola de Taquari, que foi pioneiro na apicultura racional no país, através das pesquisas de Emílio Schenk. Num período mais recente, passou a contar também com pesquisas nas áreas de sorgo, mandioca e agroprocesso, contando com coleções de variedades destas culturas. Atualmente, a área é de aproximadamente 460 hectares, em sua maior parte constituída de mata nativa e maciços de eucalipto. A Fepagro Vale do Taquari está localizada no 1º Distrito de Fonte Grande, em Taquari.
Projeto semelhante no Tocantins
A Universidade Federal do Tocantins (UFT), após 12 anos de pesquisa e de vários testes, construiu uma usina de álcool feita a partir do processamento da batata-doce. A inauguração foi em março deste ano, em Palmas, Tocantins, e é resultado de um convênio da universidade com a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
O projeto para a implantação da usina nasceu em 1996, através de um projeto de pesquisa elaborado pelo professor Márcio Antônio da Silveira, com um investimento inicial de R$ 20 mil, feito pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Hoje, o projeto conta com um aporte financeiro de R$ 1,2 milhão e envolve em média 44 profissionais, sendo 25 doutores, nove alunos de mestrado e dez acadêmicos de graduação. A capacidade total da usina é de três mil litros de etanol por dia.

Texto: Camila Pires/ O Informativo do Vale