Pesquisa desenvolve defensivo a partir de resíduos agrícolas
26-09-2024

Equipe de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense desenvolveu defensivos — Foto: Acervo Evelize Chagas
Equipe de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense desenvolveu defensivos — Foto: Acervo Evelize Chagas

Soluções combatem pragas de grãos e da criação de animais

Por Gabriella Weiss — São Paulo

Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveram um método de produção de defensivos agrícolas a partir de resíduos de biomassa, oferecendo uma alternativa sustentável e não tóxica aos tradicionais químicos usados no combate de pragas na agricultura, avicultura e pecuária.

Com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), o projeto já resultou em uma patente verde, ou seja, com benefícios ao meio ambiente, se tornando a primeira do tipo na UFF.

“O nosso método é muito promissor, pois a partir de resíduos, que estavam sendo jogados fora no meio ambiente, a gente consegue gerar ativos com várias aplicações úteis”, comemora a coordenadora do projeto e professora da instituição, Evelize Folly das Chagas.

A pesquisa utiliza a pirólise, um processo que aquece os resíduos vegetais em ausência de oxigênio. Este método, que já servia à produção de biocombustíveis como óleos e carvão, foi adaptado para extrair compostos inseticidas a partir do líquido aquoso gerado no processo.

“Descobrimos que o descarte líquido aquoso do processo, que antes era ignorado, possui compostos inseticidas que variam para diferentes tipos de insetos conforme o vegetal utilizado”, explica Evelize.

A biomassa que apresentou os melhores resultados, segundo Evelize, é proveniente do licuri, popularmente conhecido como palmeira sertaneja, típica da Caatinga.

Entre os produtos desenvolvidos estão pastilhas bioinseticidas para controle de insetos em grãos armazenados, como o besourinho dos cereais (Rhyzopertha dominica) e o gorgulho (Sitophilus zeamais). Segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e utilizados na pesquisa, as pragas provocam uma perda anual de, em média, 13 toneladas de grãos. A aplicação das pastilhas é feita nos espaços de armazenagem de grãos.

Na criação de animais, os produtos desenvolvidos combatem, na avicultura, o cascudinho (Alphitobius diaperinus), que podem provocar lesões na pele e no trato digestivo das aves, colapso hepático, prejuízo nutritivo e danos estruturais às granjas e galpões. O produto é aplicado por contato às camas do frango, combatendo a praga.

Além disso, foi desenvolvida uma solução em pó acaricida para combate a carrapatos bovinos (Rhipicephalus microplus), que provoca, segundo a pesquisa, uma perda de US$ 3 bilhões por ano no combate ao inseto.

A pesquisadora explica que as fêmeas do carrapato, após se encherem de sangue, caem ao solo e botam entre 3 mil e 5 mil ovos, que se tornarão larvas. Esta é a fase mais resistente do carrapato, onde a larva pode passar cerca de três meses sem se alimentar, enquanto aguarda a oportunidade de se instalar em um hospedeiro. “Essas larvinhas ficam nas baias ou no chão, então em torno de 90% da infestação do carrapato fica no ambiente, não no hospedeiro, e o produto atua nessa fase”, pontua.

Pó acaricida é aplicado no solo para combate ao carrapato bovino — Foto: Acervo Evelize Chagas

Recentemente, a equipe expandiu seu foco para o reaproveitamento de resíduos urbanos de madeira, especialmente de castanheiras ornamentais, presentes tanto no campus da UFF, quanto em praias cariocas. O projeto utiliza as castanhas, tóxicas para o meio ambiente, para extrair uma substância antibacteriana eficaz contra mastite bovina, ou seja, infecções nas tetas de vacas, visando melhorar a qualidade do leite e reduzir o uso de antibióticos.

Para potencializar a aplicação desses bioinseticidas no mercado, foi criada em parceria com a universidade a startup AgroTechBio, que será liderada pela recém-doutora do laboratório Juliana Santos de Andrade, agraciada pelo programa Doutor Empreendedor.

Fonte: Globo Rural