Preço do açúcar na bolsa de Nova Iorque ultrapassa os 20 centavos de dólar por libra-peso
11-04-2022

Quais as razões para a explosão de preço no mercado futuro de açúcar em Nova Iorque na semana passada?

*Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em Nova Iorque explodiu na semana passada, com os preços de todos os vencimentos correspondentes à safra 22/23 do Centro-Sul ultrapassando os 20 centavos de dólar por libra-peso. O que pode ter acontecido?

Antes de tudo, há um senso comum de que a moagem da safra de cana no Centro-Sul vai começar mais tarde do que anteriormente previsto e as usinas deverão privilegiar no início da safra a produção de etanol pelas razões expostas no nosso comentário da semana passada (veja aqui https://archerconsulting.com.br/artigos/O_ETANOL_DA_AS_CARTAS/). Nada disso era novidade. No entanto, o cenário macro (guerra na Ucrânia, nova variante da covid na China) dá sinais difusos.

Uns pensam que pode haver desabastecimento de qualquer commodity e/ou problemas logísticos que impedem o produto de circular. A maioria dos mercados se inverteu, ou seja, os contratos com vencimento mais curto negociam acima daqueles com vencimento mais longo, alimentados pela compra maciça dos spreads pelas casas comerciais. Lembrando que o spread é a manifestação no mercado futuro do sentimento que domina no mercado físico. Estão invertidos em praticamente todos os vencimentos o café, o açúcar (os dois primeiros vencimentos), o petróleo (WTI e Brent), o algodão, a aveia, a soja, o óleo de soja, o farelo de soja, o trigo, entre outros tantos.

O açúcar reflete notadamente o receio que alguns traders do mercado tem manifestado nas rodas privadas de que pode haver não apenas menor disponibilidade de açúcar no início da safra, mas uma onda de pedidos de wash-out de contratos de exportação de açúcar por parte das usinas objetivando aproveitar a melhor remuneração do etanol. A conferir.

Observe-se, no entanto, que o hidratado explodiu no mercado interno chegando a negociar a R$ 4,3500 o litro. Interessante como as distribuidoras não perceberam esse movimento que estava telegrafado, escrito na parede, nos sinais de fumaça de todas as tribos e, de repente.... BOOM!

Para contrapor esse entusiasmo do mercado do etanol é bom não esquecer que a paridade do petróleo hoje está zerada enquanto o mercado internacional voltou para os 100 dólares por barril. Algum evento exógeno será necessário para suportar os atuais níveis de preço além do início da safra. Tanto o Brasil, quando a América Central e a Ásia estão fixando preços do açúcar, que foi beneficiado pela visão do que ocorre no mercado interno de hidratado. Nada que acontece no mercado consumidor de açúcar, no entanto, traz algum ânimo.

Acredito que precisamos de um par de semanas para entender melhor esse movimento. Por outro lado, nossa segunda estimativa da produção de cana para o Centro-Sul para a safra 22/23 foi reduzida para 552 milhões de toneladas (anterior: 555). Encolhemos a produção de açúcar, de 33,792 para 33,000 milhões de toneladas e aumentamos a produção total de etanol para 28,611 bilhões de litros (anterior 28,368), sendo 102 milhões de litros de anidro e 141 milhões de litros de hidratado. Nada muito preocupante, mas o viés é de baixa.

O real encerrou a semana ligeiramente mais baixo em relação ao dólar: R$ 4,7100 contra R$ 4,6650. Como o mercado de açúcar encerrou a semana a 20.35 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de quase 100 pontos na semana (22 dólares por tonelada), o valor médio dos fechamentos do açúcar para a 22/23, já convertidos pela curva de juros, subiram mais de R$ 120 por tonelada na semana. O spot encerrou a R$ 2,200 1% acima da média de preços das fixações das usinas.

Sobre o dólar, o economista chefe do Banco BV, Roberto Padovani, acredita que “há muito otimismo no mercado cambial. Assim como no segundo semestre de 2020 e meados de 2021, o início deste ano tem sido marcado por uma expressiva apreciação da moeda brasileira. Os riscos à frente, no entanto, sugerem que a tendência de queda do dólar pode não ter muito fôlego. A ideia é que apenas os juros domésticos não são suficientes para compensar a pressão sobre a moeda gerada pela alta dos juros internacionais, fortalecimento global do dólar, menor crescimento externo e aumento dos riscos internos”. Bom não se apaixonar pelo real.

Por último, na semana passada, este comentário trazia na última linha uma citação de um executivo do setor em que profetizava que “no Brasil de hoje, amanhã é longo prazo”. Acertou na mosca. Elogiávamos a indicação de Adriano Pires para a presidência da Petrobras, que o mercado aceitou bem. No entanto, ele acabou declinando do convite e um outro nome deverá ser apreciado pelo Conselho da empresa nesta semana.

*Arnaldo Luiz Corrêa – diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda