Preço do açúcar precisa subir para Brasil atender demanda mundial, diz consultoria
07-10-2024

Somente o Brasil tem a possibilidade de elevar sua produção de açúcar para atender o aumento mundial de demanda, afima Datagro — Foto: Freepik
Somente o Brasil tem a possibilidade de elevar sua produção de açúcar para atender o aumento mundial de demanda, afima Datagro — Foto: Freepik

Segundo o presidente da Datagro, consumo cresce de 1,8 milhão a 2 milhões de toneladas por ano

Por Eliane Silva — Ribeirão Preto (SP)

O preço internacional do açúcar precisa subir dos atuais US$ 0,22 por libra-peso para, no mínimo, US$ 0,24 a US$ 0,26 e se manter nesse patamar por um período prolongado para que o Brasil, o maior exportador mundial do produto, possa aumentar sua produção para atender à demanda global, que continua crescendo de 1,8 milhão de toneladas a 2 milhões de toneladas por ano.

O alerta foi dado nesta quinta-feira (3/1), em Ribeirão Preto (SP), pelo presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, durante o 18º Encontro Anual de Açúcar e Álcool em Ribeirão Preto, promovido pelo Citi.

Segundo o consultor, nos últimos três anos houve déficit de açúcar no mundo e, entre os grandes exportadores, somente o Brasil tem a possibilidade de elevar sua produção para atender o aumento mundial de demanda. Índia, Tailândia e União Europeia, os outros três grandes exportadores, não teriam essa condição.

“A Índia está voltada para o seu programa de etanol. A Tailândia tinha um projeto de chegar a 16 [milhões de toneladas] ou 18 milhões de toneladas, mas tem limitação de expansão e nunca passou de 12,5 milhões [de toneladas]. A União Europeia não quer expandir sua produção para manter o preço em níveis elevados. Já o Brasil tem área, tecnologia e pessoal, mas o setor precisa ter incentivo para investir no aumento da cristalização”, disse Nastari.

O analista afirmou que a capacidade anual de produção atual do Brasil, que responde atualmente por 76% do açúcar bruto exportado, é de 46 milhões de toneladas a 47 milhões de toneladas no Centro-Sul e de mais 3,7 milhões de toneladas a 3,8 milhões de toneladas no Norte e Nordeste.

Ele disse ainda que os problemas climáticos deste ano, que deixaram regiões produtoras no Centro-Sul de 160 a 180 dias sem chuva, e em menor grau as queimadas, “geram um momento de aflição”, mas que “a cana-de-açúcar é uma cultura tão fantástica que pode surpreender e se recuperar logo”.

“Com todas essas adversidades, do ponto de vista de moagem, estamos em situação parecida com ano passado, mas os problemas devem começar agora”, avaliou Nastari.

Nova doença

Ele citou como problema adicional uma nova doença que está atingindo os canaviais: a síndrome da murcha. Trata-se de um fungo que causa a podridão vermelha e provoca a redução da pureza de caldo, a redução da massa verde, abre portas para infecção da planta por outros patógenos, reduz a população de plantas e, consequentemente, a produtividade.

“E, na hora que o Brasil tem esses problemas, começa a surgir a possibilidade de o governo indiano abrir uma cota de exportação de 2 milhões de toneladas. Mas, para isso, o preço em Nova York precisa subir ao ponto de o produtor indiano achar mais interessante exportar do que transformar a cana em etanol e pressionar o governo pela abertura da exportação”, opinou.

Crédito

Segundo André Cury, head do Commercial Bank do Citi para o Brasil e América Latina, o banco internacional aumentou sua carteira de crédito no agro brasileiro de 20% para 25% em um ano, mas viu diminuir sua participação no setor sucroenergético.

“Nossa exposição no segmento de açúcar e etanol caiu pela metade nos últimos três anos porque o setor se desalavancou e teve preços bem remuneratórios no período. As empresas do setor estão tão bem capitalizadas que o impacto das queimadas no curto prazo é bem mitigado, moderado. Se fosse a alavancagem de três anos atrás, a gente teria um problema.”

Outra razão para essa redução de crédito, segundo Cury, é que, nos últimos anos, os bancos foram substituídos pelo mercado de capitais, que passou a ser o indutor de investimento e fornecedor de crédito do setor sucroenergético. Os clientes do Citi Brasil detêm 60% da moagem do Centro-Sul, mas mais de 60% do financiamento agora vem do mercado de capitais e os bilaterais têm apenas 30%.

“A gente cresceu em café, grãos e cooperativas. O financiamento para exportação é o nosso melhor e mais competitivo produto porque temos um funding melhor em dólar do que o dos bancos nacionais.”

No evento, o presidente do Citi Brasil, Marcelo Marangon, disse aos empresários que a transição energética é uma grande oportunidade de negócios para o Brasil, que tem biomassa para liderar esse mercado, mas a locação de capital é muito competitiva e não olha apenas o Brasil.

“Precisamos de novos projetos sustentáveis e competitivos. Nosso compromisso de alocar US$ 1 trilhão no mundo em projetos de finanças sustentáveis até 2030 já alcançou US$ 440 bilhões.”

Fonte: Globo Rural