Pressão externa e oferta elevada derrubam preços do açúcar na safra 2025/26
08-10-2025

Cotação interna do cristal branco cai 17,5% em um ano

Por Andréia Vital

Desde o início da safra 2025/26, em abril, o mercado de açúcar tem mostrado um comportamento distinto do registrado no ciclo anterior. As médias mensais do Indicador CEPEA/ESALQ para o açúcar cristal branco (Icumsa 130-180) no mercado spot paulista seguem abaixo das de 2024, refletindo a combinação de um cenário internacional de preços mais baixos e o avanço expressivo da produção no Centro-Sul.

Em setembro, a diferença negativa foi a maior da temporada: a média do Indicador ficou em R$ 118,65 por saca de 50 kg, queda de 0,9% em relação a agosto e retração de 17,54% frente a setembro do ano passado, quando o valor real, corrigido pelo IGP-DI, era de R$ 143,88.

A pressão sobre os preços domésticos decorre, em grande parte, da desvalorização das cotações internacionais do demerara. Em setembro, o contrato futuro de referência na Bolsa de Nova York (ICE Futures) oscilou entre 15 e 16 centavos de dólar por libra-peso, enquanto no mesmo mês de 2024 o intervalo era de 18 a 23 centavos. Paralelamente, a demanda interna segue morna — varejistas relatam queda nas vendas de produtos à base de açúcar, o que limita repasses de preços.

Do lado da oferta, as usinas paulistas ampliaram a destinação da cana para o açúcar. Segundo a Unica, foram produzidas 2,37 milhões de toneladas na primeira quinzena de setembro, alta de 19,8% sobre o mesmo período de 2024, com o mix voltado ao adoçante atingindo 60,9%.

No mercado spot, setembro começou com forte desvalorização, impulsionada pela fraqueza da demanda e pela disposição das usinas em reduzir preços para liberar estoques. A baixa internacional acentuou a cautela dos compradores domésticos. Na segunda metade do mês, contudo, os preços reagiram, mesmo com o avanço da produção, sustentados pelo bom ritmo de moagem favorecido pela estiagem. Ainda assim, o fim do mês trouxe nova perda de fôlego, com oferta restrita de açúcar de melhor qualidade, mas sem reação do consumo.

Segundo levantamento da S&P Global Commodity Insights, a produção de açúcar no Centro-Sul cresceu cerca de 15% na primeira quinzena de setembro, somando 3,6 milhões de toneladas. A moagem aumentou 6,8%, para 45,9 milhões de toneladas, mas o teor de ATR caiu 3,9%, para 153,8 kg por tonelada.

No Nordeste, a safra 2025/26 começou de forma estável. O foco inicial no açúcar VHP limitou a oferta de cristal e manteve os preços firmes. Com o avanço da moagem, mais usinas passaram a vender no mercado interno, pressionando as cotações regionais, especialmente em Pernambuco. Apesar disso, as vendas cresceram, reduzindo a dependência do produto do Centro-Sul.

Chuvas intensas atrasaram a colheita nordestina, afetando o início da moagem, segundo a Novabio. Em setembro, o CEPEA/ESALQ registrou médias de R$ 140,35 por saca em Pernambuco (-2,75% no mês e -9,7% em um ano), R$ 147,72 em Alagoas (-2,29% e -9,0%) e R$ 130,77 na Paraíba (-4,26% e -11,6%).

Externamente, o mercado demerara foi pressionado por estimativas de grandes safras na Ásia e no Brasil. Índia e Tailândia projetam forte produção, enquanto o tempo seco no Centro-Sul brasileiro acelerou a moagem. No fim do mês, sinais de retomada da demanda trouxeram algum suporte: a China importou 830 mil toneladas em agosto (+7,5% ante 2024), e o Paquistão adquiriu 320 mil toneladas para entrega futura.

Mesmo assim, analistas apontam para um possível superávit global em 2025/26, o que deve conter novas valorizações.

Cálculos do Cepea indicam que, em setembro, as vendas internas do açúcar remuneraram, em média, 7,65% a mais que as exportações, considerando o preço médio doméstico, o contrato nº 11 da ICE e custos logísticos. A vantagem, porém, pode ser reduzida se o cenário de oferta abundante persistir no mercado internacional.

Com informações do Cepea