Primavera 2024: qual a previsão do tempo para a nova estação?
23-09-2024

A primavera é conhecida como a transição entre os períodos seco e chuvoso no Hemisfério Sul — Foto: Getty Images
A primavera é conhecida como a transição entre os períodos seco e chuvoso no Hemisfério Sul — Foto: Getty Images

Período deve ser marcado pela chegada do fenômeno La Niña

Por Daniela Walzburiech — Florianópolis

primavera começou às 9h44 deste domingo (22/9) no Hemisfério Sul, após um inverno com volumes de chuva abaixo da média no Sul, grande variação de temperaturas dividida entre ondas de frio e calor e focos de queimadas e incêndios por todo o país.

Variação de chuva e temperatura em relação à média histórica da estação — Foto: INMET

A terceira estação do ano é conhecida climatologicamente como a transição entre os períodos seco e chuvoso e fica ativa até 21 de dezembro, quando dará espaço ao verão em 2024. Veja abaixo a previsão do tempo:

O que é a primavera?

A estação das flores é o período de 90 dias que separa o inverno e o verão e se caracteriza por temperaturas mais amenas, mas isso não vai acontecer neste ano.

Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em relatório divulgado em parceria com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), o clima seco e as temperaturas acima da média irão prevalecer até meados de novembro em todas as cinco regiões do Brasil.

A principal novidade em 2024 é que a primavera tem início durante o período de neutralidade climática – entre o fim do El Niño e a chegada do La Niña.

Novas ondas de calor são esperadas?

Fenômeno registrado seis vezes em 2024, as ondas de calor devem se formar novamente na primavera, mas não é possível prever quando e nem a intensidade, explica Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo.

O especialista ouvido pela Globo Rural completa que a tendência é que elas fiquem cada vez mais frequentes no cenário climático atual, onde há recorde mensal de temperatura desde o fim do outono do ano passado.

“Nunca podemos descartar. Tivemos nove ao longo de todo o ano passado. A gente segue com o índice de temperaturas acima da média bem potencializadas, mas não dá ainda para afirmar, porque a previsão da onda de calor é de curto prazo”.

Josélia Pegorim, também da Climatempo, reforça que a intensidade das ondas de calor registradas em 2023 pode se repetir neste ano. Porém, com atuação limitada a partir de novembro e risco, principalmente, no Pará, Tocantins, Goiás e em todo o Nordeste.

A elevação dos termômetros nem sempre são indicativos de ondas de calor. Para a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), o fenômeno é caracterizado por uma sequência de, no mínimo, três dias em que as temperaturas de determinada região permanecem 5ºC ou mais acima da média.

Frio na primavera? É possível!

Os três Estados do Sul – Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – e pequenas áreas de Mato Grosso do Sul e São Paulo podem ser afetados pela passagem de frentes frias significativas e que vão derrubar as temperaturas nos primeiros dias da nova estação.

A condição não deve formar geada ou acarretar prejuízos à agricultura, de acordo com o meteorologista Willians Bini, da FieldPro, e perde força gradualmente com o aumento do calor pela incidência da radiação solar.

“É muito normal nas primeiras semanas algumas frentes frias virem junto com massas de ar frio e, consequentemente, ter uma variação de temperatura. Eu não falaria em ondas de frio, mas podemos ter períodos de frio”, diz.

Quando deve começar o período de chuva?

À medida que a atmosfera ganha umidade e os ventos distribuem o ar mais úmido sobre a América do Sul, a expectativa é que as chuvas se tornem mais frequentes e ocorram de forma distribuída pelo Brasil.

A condição deve se intensificar na região Sul no início de outubro, enquanto áreas mais secas e localizadas na parte central vão registrar volumes mais elevados apenas na segunda semana do mês.

Uma das consequências positivas do aumento das chuvas é a diminuição das queimadas e incêndios. Apenas em agosto, o Brasil registrou 68.635 focos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Conforme a chuva se torna mais volumosa, mais abrangente e mais frequente, isso deve contribuir para redução das áreas de incêndios no país”, avalia Desirée Brandt, meteorologista e sócia da Nottus Consultoria.

Por enquanto, a condição segue favorável para a manutenção de queimadas e incêndios com os baixos índices de umidade, as altas temperaturas, a umidade do solo baixa, a vegetação seca, a ausência de umidade na atmosfera e a pouca força da umidade da Amazônia, completa Bini.

Ele reforça ainda que a mudança será observada quando as pancadas de chuva associadas ao calor se tornarem frequentes, principalmente entre o Sudeste e Centro-Oeste. E, além de diminuir os focos de fogo, a condição beneficiará a agricultura.

“A grande questão é o tempo extremamente seco. Algumas regiões estão com muitos dias seguidos sem chuva. O planejamento para o início da semeadura está realmente complicado nesse momento de safra. Para o Centro-Oeste, especialmente Mato Grosso, grande região produtora, isso pode acontecer em meados de outubro ou na segunda quinzena, mas no Mato Grosso do Sul, São Paulo e Triângulo Mineiro pode começar um pouco antes”.

Belo Horizonte lidera a lista das capitais brasileiras no ranking que avalia longos períodos de estiagem, afirma o Inmet. Em 2024, são 152 dias seguidos sem chuva, o que aumenta o risco de incêndios e afeta a qualidade do ar. Brasília (148), Goiânia (146), Cuiabá (123) e Palmas (121) completam a lista.

Como será a chuva em cada região na primavera?

Sul

No mês de outubro, o primeiro completo na estação, parte da região terá volumes de chuva dentro da média com duas exceções: Extremo-Oeste do Rio Grande do Sul, com déficit de precipitação, e litoral do Paraná e Santa Catarina, com áreas acima da média. Para novembro, um novo perfil começa a se desenhar pela proximidade do La Niña e condições de chuva abaixo da média, menos no litoral catarinense. Em dezembro, o resultado será a anomalia negativa e pouca chuva.

Sudeste

As chuvas devem ficar dentro da média em outubro, com exceção do Norte de Minas Gerais. No mês seguinte, a condição se repete menos no litoral do Rio de Janeiro. Para dezembro, teremos chuvas dentro da média e com algumas áreas com volumes superiores entre o Sul de Minas e Rio de Janeiro.

Centro-Oeste

De forma geral, as chuvas devem se manter abaixo da média em outubro, menos no Mato Grosso. O Estado pode registrar um volume maior no período, mas, no acumulado, o número seguirá negativo. Em novembro, a chuva abaixo da média atinge áreas de Goiás e Leste de Mato Grosso, o que liga o alerta à agricultura. A condição não significa ausência de precipitação, mas volumes muito baixos. Em dezembro, de forma geral, será positivo com chuvas dentro da média, o que indica também um padrão de La Niña.

Norte

A expectativa é de uma mudança expressiva na região durante a primavera. Após setembro e outubro de déficit hídrico, novembro deve ser marcado por volumes positivos de precipitação. A chuva também aparece e fica acima da média a partir de dezembro. Pará, Amapá e Tocantins terão volumes abaixo da média, enquanto os volumes podem ficar próximos ou acima da média histórica no Amazonas, Acre e Roraima.

Nordeste

Assim como foi no inverno, a primavera começa com menos chuva na região, situação que se repete em novembro e melhora em dezembro, com a regularidade das precipitações menos na faixa litorânea, que ainda seguirá com a anomalia negativa.

E como ficam as temperaturas?

A previsão do tempo indica que todas as regiões vão apresentar temperaturas elevadas durante a primavera, o que pode originar ondas de calor intensas e prolongadas. Para o Norte e Nordeste, por exemplo, o número pode ficar entre 1ºC e 3ºC acima da média.

“Estamos desde o fim do outono de 2023 em uma sequência com recordes de temperaturas. Os modelos estão indicando para o fim de setembro e começo de outubro temperaturas acima dos 40ºC até 45ºC para o Mato Grosso. Essa escalada do calor vai continuar e bem acima do normal”, explica Willians Bini.

Apenas em dezembro, mês marcado pelo fim da primavera e início do verão, as temperaturas vão diminuir. E a responsável será a chuva, que impede os picos elevados de calor.

Guilherme Borges, da Climatempo, explica que o aumento das temperaturas em até 2ºC acima da média no Nordeste é normal no período conhecido como B-R-Ó BRÓ. Usada para descrever a época mais quente e seca do ano, a expressão é formada pela última sílaba de setemBRO, outuBRO, novemBRO e dezemBRO significa a elevação expressiva das temperaturas. No Piauí, por exemplo, as cidades podem superar facilmente os 40ºC diariamente.

O La Niña chega na primavera?

Com o fim do El Niño confirmado em 13 de junho de 2024 pelo Inmet, a expectativa é pela instalação do La Niña. No último relatório da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência climática dos Estados Unidos indicou que a chance de entrar em ação no mês de outubro é de 72%.

Com o atraso, o fenômeno caracterizado por uma anomalia negativa na temperatura de -0,5 °C ou menos nas águas superficiais de partes central e leste do Oceano Pacífico não deve interferir tanto na estação, aponta o meteorologista Guilherme Borges.

“A gente já vê o sinal mais negativo e tem um acoplamento para efeito significativo que deve ser mais no fim da primavera. Assim, não acredito que a chegada irá aumentar a chuva na região Norte ou deixá-la abaixo da média no Sul, por exemplo”.

No Brasil, o La Niña influencia a ocorrência de chuvas na faixa que vai do Norte ao Nordeste e deixa o Sul abaixo da média. Para o Centro-Oeste e Sudeste, os volumes ficam mais indefinidos.

Em relação às temperaturas, o fenômeno meteorológico favorece a entrada de massas de ar mais geladas no Sul. Porém, como a chegada está atrasada, a característica fica nula no início da primavera.

O La Niña deve persistir durante a nova estação, prosseguir no verão e finalizar até o fim do primeiro trimestre de 2025. Neste caso, o período de neutralidade vigente neste momento deve retornar entre os meses de março e abril. “Os modelos não estão colocando fenômeno muito forte e persistente. Fica a dúvida sobre a duração e a intensidade dele”, finaliza Bini.

Fonte: Globo Rural