Primavera seca e má distribuição de chuva preocupam especialista: 'é preciso prevenir para evitar seca'
02-01-2018

Safra da cana-de-açúcar pode sofrer consequências em 2018, avaliou pesquisador de Piracicaba.

Por Carol Giantomaso*, G1 Piracicaba e Região

A sensação de tempo mais seco e de pouca quantidade de chuvas na primavera são reflexo dos números em Piracicaba (SP). A estação que encerra o período de estiagem foi menos chuvosa e pode afetar a safra de cana-de-açúcar em 2018, segundo o professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Fábio Marin.

O especialista disse ao G1 que a baixa quantidade de chuva pode ter efeitos principalmente para canaviais e pastos, gerando preocupação para as usinas da região. "O problema é a distribuição. Em setembro passou o mês inteiro sem chover e choveu dia 29 e 30 só”, explicou.
“Especialmente para a agricultura isso é muito ruim.”
Marin explicou também que em outubro o quadro não foi diferente e que só em novembro a água foi bem distribuída e em quantidade satisfatória. No entanto, dezembro também começou sem chuvas. “Na média, a situação para a maioria dos produtores não é boa”, declarou.
O pesquisador afirmou ainda que para a região de Piracicaba é difícil fazer previsões, mas que em janeiro e fevereiro, com base na média histórica, é possível que chova muito. “Mesmo que agora chova e reponha toda a quantidade, não adianta mais. Essas culturas ficaram sob estresse o mês inteiro e não se desenvolveram. Se chover, ela volta a crescer, mas não recupera o que perdeu”, explicou.
Mesmo não tendo como prever se os próximos meses serão chuvosos, Marin afirma que é bom prevenir. “Eu começaria a preparar para um cenário de chuvas abaixo da média. Não porque eu acho que vai acontecer, mas para ir já preparado.”

“É importante não deixar chegar a situação de 2014, que o pessoal foi esperar chegar em março para pensar o que fazer com a água.”
O especialista disse ainda que esse período de seca pode chegar a afetar o consumidor diretamente no preço do açúcar em 2018, já que a região tem produção de cana. “Mas não é uma seca no Brasil inteiro, então pode não acontecer”, explicou. Os principais afetados com isso serão os produtores de cana.
Ainda assim, caso chova em grandes quantidades, o nível dos rios da região pode normalizar e evitar uma temporada de seca no abastecimento. “Para os mananciais, se chover bastante é bom”, disse.

Quase igual
O professor explicou que a situação de chuvas em Piracicaba até o dia 20 de dezembro estava abaixo do que a primavera de 2013, que precedeu a crise hídrica no verão de 2014. No entanto, com as chuvas dos últimos dias, a marca ultrapassou a quantidade em 10 milímetros.

“Pode chover bastante em janeiro e mudar o quadro.”
Os dados do posto meteorológico da Esalq apontam que, de setembro a dezembro de 2013, choveu 420 milímetros. Até o dia 29 de dezembro de 2017, a cidade tinha registrado 468 milímetros. No entanto, dessa quantidade, mais da metade foi em novembro, o mês com mais chuvas e melhor distribuição desde setembro.
Marin explica que, apesar de 2017 ter sido um ano ruim para a agricultura, o problema das chuvas é localizado em Piracicaba e região. “Onde o rio nasce está chovendo bem. Em 2014 foi muito mais generalizado, agora é um fenômeno localizado aqui”, finalizou.
*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Piracicaba e Região