Produção de etanol tende a sofrer queda de 22,2% em Minas
07-05-2020

Crédito: Niels Andreas
Crédito: Niels Andreas

A queda no preço do petróleo, o que reduz os preços da gasolina e compromete a margem de lucro do etanol, desestimulou a produção do biocombustível na safra 2020/21.

A situação foi agravada pelo isolamento social implantado para o controle do novo coronavírus, que fez com que o consumo de combustíveis recuasse. De acordo com os dados do 1º Levantamento da Safra de Cana-de-Açúcar, divulgado nessa terça-feira (5) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é esperada redução de 22,2% na produção de etanol total em Minas Gerais. Já a produção de açúcar deve crescer 26%. A maior fabricação do adoçante é uma alternativa para reduzir os prejuízos.

Em Minas Gerais, de acordo com os dados da Conab, a produção de cana-de-açúcar na safra 2020/21 será de 65,7 milhões de toneladas, queda de 4,4% frente à safra anterior, quando a produção totalizou 68,9 milhões de toneladas. A produtividade média esperada é de 76,8 toneladas por hectare, recuo de 8,2%. Também houve uma redução da área a ser colhida (- 4,2%), totalizando um espaço de 855,1 mil hectares.

Ao contrário da safra anterior, a produção de etanol será menor enquanto a de açúcar crescerá. No Estado, a produção esperada de etanol total é de 2,7 bilhões de litros, o que representa uma queda de 22,2% ou 735,4 mil litros a menos que na safra anterior.

O volume de cana a ser esmagada para a produção de biocombustível foi reduzido em 21,4% e somou 34,9 milhões de toneladas.

A produção de etanol hidratado tende a recuar 29,2%, com 1,8 bilhão de litros, 750,2 mil litros a menos que o fabricado na safra passada. Ao todo, serão esmagadas 22,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para a geração de etanol hidratado, queda de 28,7%.

Para o anidro, foi estimada retração de 4,4% no volume, que pode chegar a 977,2 milhões de litros. A quantidade de cana destinada para o biocombustível é de 12,5 milhões de toneladas, queda de 3,7% quando comparado com o ano anterior.

De acordo com o diretor-presidente da Conab, Guilherme Bastos, este primeiro levantamento da safra de cana-de-açúcar traz importantes informações em um momento de incertezas, resultante da queda nos preços do petróleo, no consumo de combustíveis no País -- devido ao isolamento em função da pandemia do novo coronavírus -- e nas cotações do açúcar.

"No caso do etanol, as unidades de produção foram amplamente afetadas pelo isolamento domiciliar, que reduziu a circulação de pessoas e, por consequência, o consumo interno de etanol hidratado e de gasolina, que afeta o etanol anidro que é adicionado ao combustível. Além disso, o biocombustível foi impactado pela desvalorização dos preços internacionais do petróleo, que acaba prejudicando as margens do setor".

Açúcar -- A previsão é de que a safra mineira de açúcar alcance 4 milhões de toneladas, alta de 26%. Ao todo, serão esmagadas 30,7 milhões de toneladas de cana, volume 26,9% superior.

Bastos explica que, no caso do açúcar, para reduzir os impactos da dupla crise que atinge o mercado de biocombustíveis -- representado pela queda dos preços e dos volumes comercializados -- e ainda para mitigar os efeitos da redução da demanda de algumas indústrias pelo açúcar está previsto aumento na produção, já que a exportação pode ser uma saída.

"O setor está tentando intensificar as vendas dessa commodity no mercado internacional. No exterior há um vácuo no mercado, resultante de problemas de produção na Tailândia, segundo maior exportador mundial, da restrição das exportações para priorizar o mercado interno na América Central e de problemas de embarques na Índia, efeito da pandemia".

Devido à crise enfrentada pelo setor, o coordenador-geral de cana-de-açúcar e agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Cid Caldas, disse que é preciso auxiliar o setor para garantir o abastecimento futuro.

"Não podemos deixar o setor sucumbir porque, amanhã, o País voltará à normalidade e precisamos pensar que o uso do etanol tem papel importante na preservação do meio ambiente. É preciso fazer todo o esforço para manter o setor em atividade. Os números apresentados pela Conab mostram o dinamismo do setor, que, com todas as dificuldades, tenta se recuperar e mostrar capacidade de superação. Os desafios são grandes, mas, com a contribuição da Conab, Mapa e de todo o segmento, conseguiremos ultrapassar esta crise".


NO PAÍS, RETRAÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEL SERÁ MENOR

São Paulo -- O Brasil terá uma moagem de cana 1,9% menor na temporada 2020/21, para 630,7 milhões de toneladas, mas a produção de açúcar terá um crescimento de 18,5%, para 35,3 milhões de toneladas, com uma maior destinação da matéria-prima para o adoçante, estimou ontem a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Já a produção total de etanol do País em 2020/21 foi estimada em quase 32 bilhões de litros (de cana e milho), redução de 10,3% ante a safra passada, com o setor privilegiando o açúcar, que tem preços mais favoráveis em reais em meio a uma disparada do dólar.

"O cenário atual para o mercado do açúcar é de real desvalorizado em relação ao dólar, venda antecipada de grande parte da produção, estimativa de quebra da produção mundial na safra 2019/20 e expectativa de ampliação da produção brasileira na temporada 2020/21, o que poderá contribuir para o aumento das exportações brasileiras", disse a Conab em relatório.

A estatal lembrou que, na safra atual, cerca de 80% do açúcar a ser exportado pelo Brasil, líder global no setor, já tenha sido negociado no mercado futuro, aproveitando a alta de 20,9% dos preços internacionais entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, antes, portanto, dos impactos mais severos do coronavírus.

"Por meio dessa estratégia, muitas usinas garantiram a sustentação de suas exportações no atual ciclo, mesmo diante de uma drástica redução dos preços internacionais imposta pela combinação entre a pandemia do Covid-19 e a queda dos preços do petróleo em março", disse a Conab, lembrando que a desvalorização do real tem contribuído para as vendas antecipadas.

Em recente entrevista à Reuters, o presidente da Conab, Guilherme Soria Bastos Filho, disse que o açúcar será importante para "equilibrar" a indústria de etanol do Brasil, em meio aos impactos do coronavírus no consumo de combustíveis.

Dessa forma, o "mix" de cana para açúcar no Brasil aumentará para 42,4% no ciclo atual, ante 34,9% na safra passada.

A produção de etanol de cana do Brasil foi estimada em 29,3 bilhões de litros, queda de 13,9% na comparação anual, enquanto a fabricação do combustível de milho somará 2,7 bilhões de litros, aumento de 61,1% com novas unidades ampliando operação.

Enquanto isso, a área plantada com cana para moagem em 2020/21 no Brasil cairá 0,4% ante a temporada passada, para 8,4 milhões de hectares, segundo a Conab, que apontou também queda de 1,5% na produtividade dos canaviais do País, para 75.025 quilos/hectare.

Centro-Sul -- O Centro-Sul brasileiro, que começou oficialmente a moagem em abril, terá redução de 1,9% na safra de cana, para 578,8 milhões de toneladas.
A produção de açúcar da principal região produtora do País somará 31,8 milhões de toneladas, crescimento de 18,5% em relação à safra passada, previu a companhia.

Já a produção total de etanol do Centro-Sul em 2020/21 foi projetada em cerca de 30 bilhões de litros, redução de 9,7%, com o "mix" de cana para açúcar crescendo para 41,6%, ante 34,2% em 2019/20.

Fonte: Diário do Comércio/MG