Produção industrial cresce 0,8% em agosto, mas desaceleração segue em perspectiva para 2025
07-10-2025

Apesar de crescimento no segundo trimestre, altas taxas de juros e cenário internacional incerto devem continuar pressionando o setor industrial no restante do ano
A produção industrial brasileira registrou um aumento de 0,8% em agosto de 2025, em comparação com o mês anterior, após a leve queda de 0,1% observada em julho. Esse desempenho foi superior às expectativas da Fiesp, que previa um crescimento de 0,1%, e também ao consenso de mercado, que apontava uma alta de 0,5%. No entanto, o cenário continua desafiador, e a indústria brasileira ainda enfrenta pressões no segundo semestre, com a persistência de juros elevados e um ambiente externo mais incerto.
O crescimento de agosto foi impulsionado por 16 dos 25 setores industriais pesquisados, destacando-se principalmente os produtos farmoquímicos e farmacêuticos, que apresentaram um avanço de 13,4%, somando uma expansão de 28,6% nos últimos quatro meses. Outros segmentos importantes, como coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,8%) e veículos automotores (+1,8%), também contribuíram para o bom desempenho da produção industrial.
Por outro lado, o segmento de bens de capital registrou a única queda significativa, com uma redução de 1,4%. Entre as grandes categorias econômicas, os bens intermediários (+1,0%), bens de consumo semi e não duráveis (+0,9%) e bens de consumo duráveis (+0,6%) apresentaram taxas positivas. No entanto, a indústria extrativa teve uma queda de 0,3%, refletindo as dificuldades enfrentadas por setores mais dependentes de commodities.
Em um contexto de juros elevados e alta do custo do crédito, a produção industrial enfrenta um desafio crescente. Embora o resultado de agosto seja positivo, a Fiesp projeta que a produção industrial crescerá apenas 0,9% em 2025, após um aumento de 3,1% em 2024. Para 2026, a previsão de crescimento é ainda mais modesta, de 0,6%.
A desaceleração da atividade no setor industrial está relacionada à combinação de fatores como as altas taxas de juros, a dificuldade no acesso ao crédito e o aumento da inadimplência, que impactam diretamente a capacidade de investimento das empresas. Além disso, o cenário internacional mais adverso, com tarifas elevadas nos Estados Unidos, representa um desafio adicional para setores industriais específicos, que podem ter dificuldades em manter a competitividade.
Em meio a esse cenário desafiador, o governo federal tem adotado medidas para tentar mitigar os impactos negativos sobre a indústria. A implementação do Plano Brasil Soberano, com foco na recuperação econômica e no incentivo à demanda interna, pode ajudar a suavizar a desaceleração no setor industrial. Entre as iniciativas mais relevantes, destacam-se a disponibilização de crédito consignado privado com juros reduzidos e o aumento nas linhas de crédito do BNDES direcionadas às empresas.
Além disso, o governo anunciou uma linha de crédito de R$ 12 bilhões exclusivamente voltada ao setor industrial, com o objetivo de impulsionar a produtividade e promover a modernização das fábricas. A linha de crédito permitirá a aquisição de máquinas e equipamentos com tecnologias digitais avançadas, em áreas estratégicas definidas pelo programa federal Nova Indústria Brasil (NIB), oferecendo condições facilitadas, como juros subsidiados e prazos alongados.
A Fiesp também analisou o desempenho de cada um dos 25 setores industriais no mês de agosto por meio do Mapa de Calor da Indústria. Dos segmentos analisados, 8 estavam acelerando, 14 estavam estáveis e 3 estavam desacelerando. Em comparação com dezembro de 2024, o número de setores em desaceleração aumentou, passando de 0 para 3. Esse resultado reflete uma certa acomodação da indústria geral, com sinais de estabilidade na maioria dos setores.
No que se refere à indústria de transformação, a Fiesp prevê que, após um crescimento de 3,7% em 2024, o setor deverá se estabilizar em 0,0% em 2025, com uma possível retração de 0,9% em 2026. Essa projeção reflete a desaceleração da demanda e as dificuldades enfrentadas por algumas indústrias no ajuste às novas condições econômicas e ao aumento dos custos operacionais.
Apesar dos desafios, as perspectivas de crescimento em 2025 ainda estão condicionadas à capacidade do governo de implementar políticas eficazes para estimular a demanda interna e apoiar as empresas no processo de modernização e adaptação às novas condições do mercado.