Produtores e empresas americanas temem consequências da “guerra tarifária”
06-03-2025

Produtores de milho em Illinois temem pelos custos de produção e mercados consumidores — Foto: USDA/NRCS/Brandon O’Connor
Produtores de milho em Illinois temem pelos custos de produção e mercados consumidores — Foto: USDA/NRCS/Brandon O’Connor

Além de reduzir a demanda internacional por produtos americanos, agricultores estão preocupados com os custos de plantio e manejo para 2025/26

Por Fernanda Pressinott — São Paulo

O presidente dos EUA, Donald Trump, foi eleito com forte apoio dos produtores americanos que, agora, estão preocupados com as consequências da guerra comercial iniciada pelo governo do empresário. Agências e sites internacionais destacam que a demanda por alimentos e commodities americanas será afetada, justamente no momento em que os produtores estão decidindo sobre o plantio em 2025/26.

Fazer os cálculos de custos de produção com a incerteza sobre quais mercados absorverão os produtos americanos - e a que cotações em Chicago - deixa todos temerosos, resumiu Marty Marr, produtor de milho em Jacksonville, Illinois, em declaração ao portal Agriculture.com.

A região se beneficia da proximidade com uma linha férrea que leva o cereal à empresa Bartlett, fornecedora do grão para ração animal vendida exclusivamente ao México. Mas agora os produtores aguardam retaliação do México ao fato de governo americano ter imposto uma tarifa de 25% sobre produtos importados do país.

O governo Trump fez o mesmo com produtos canadenses e o governo do Canadá já anunciou em retaliação uma tarifa de 25% sobre US$ 155 bilhões em produtos dos EUA.

Depois, foi a vez da China. Pequim não apenas impôs novas taxas de 10% a 15% sobre importações provenientes dos EUA, como também anunciou novas restrições de exportação e de investimento a 25 empresas americanas, afirmando "motivos de segurança nacional".

Segundo o governo chinês, produtos como frango, trigo, milho e algodão dos EUA terão uma taxa adicional de 15%, enquanto soja, sorgo, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios sofrerão uma tarifa extra de 10%.

Além disso, autoridades alfandegárias chinesas informaram a suspensão de compra de soja de três empresas dos EUA.

O produtor Marr disse que se preocupa que tarifas retaliatórias possam levar o México a comprar mais milho de fornecedores sul-americanos e menos dos EUA. “Isso seria doloroso. É muito importante mantermos boas relações com eles”.

Illinois é um dos principais fornecedores de milho dos EUA para o México porque é o segundo maior estado produtor, e tem um centro ferroviário que conecta os agricultores aos compradores ao sul da fronteira.

No geral, cerca de um terço do milho cultivado em Illinois é exportado, disse Collin Watters, diretor de exportações e logística da Illinois Corn Growers Association.

O presidente do American Farm Bureau, Zippy Duvall, afirmou ao site Farm Progress que os agricultores apoiam as metas de Trump para garantir segurança e comércio justo com outras nações, mas tarifas adicionais, juntamente com tarifas retaliatórias esperadas, afetarão a área rural. Ele observa que os EUA exportaram no ano passado mais de US$ 83 bilhões em produtos agrícolas para os três países cujos impostos foram elevados.

"Pelo terceiro ano consecutivo, os produtores estão perdendo dinheiro em quase todas as principais safras plantadas", disse Duvall em uma declaração de 3 de março. "Adicionar ainda mais custos e reduzir mercados para produtos agrícolas americanos pode criar um fardo econômico que alguns podem não serem capazes de suportar. Pedimos ao presidente Trump que continue trabalhando com nossos parceiros internacionais para encontrar maneiras de resolver desentendimentos rapidamente, para que os agricultores possam se concentrar em alimentar famílias na América e no exterior.”

O fazendeiro de Dakota do Norte e presidente da American Soybean Association, Josh Gackle, observou para a mesma publicação e também na rede X (antigo Twitter) que os preços das commodities caíram drasticamente na terça-feira antes de se recuperarem hoje. "Nas últimas semanas, os preços da soja e do milho caíram significativamente, criando incerteza no mercado. Essa é a última coisa que os agricultores querem."

De acordo com Gackle, não há espaço para erros com os agricultores já perdendo dinheiro agora. Durante a guerra comercial iniciada por Trump em 2018, muitos agricultores estavam melhor posicionados para absorver a dor econômica. "Desta vez, os preços das commodities caíram drasticamente nos últimos meses. Juntamente com os custos mais altos dos insumos, as margens de lucro da soja e de outras culturas continuam piorando."

“Fazemos tudo o que podemos para criar demanda doméstica, seja por meio de biocombustíveis ou alimentando o gado com nosso produto”, disse ele. “Mas você não pode eliminar o mercado de exportação.”

Custos de produção

Não bastasse a preocupação com a demanda, a guerra tarifária pode comprometer fortemente os custos de plantio. O presidente e CEO do Fertilizer Institute (TFI), Corey Rosenbusch, afirmou à publicação AgWeb que as tarifas afetarão os fertilizantes essenciais não só para o cultivo de commodities, mas também de alimentos acessíveis para as famílias americanas. Segundo ele, 85% do potássio usado nos EUA vem do Canadá.

"O TFI continua a pedir ao governo que forneça uma isenção estratégica para fertilizantes canadenses dessas tarifas, inclusive por meio da designação como minerais essenciais. Com a temporada de plantio da primavera se aproximando rapidamente e a agricultura dos EUA continuando a enfrentar sérios ventos contrários, manter cadeias de fornecimento de fertilizantes confiáveis e econômicas é essencial para garantir uma colheita produtiva e proteger os agricultores americanos de tensões financeiras desnecessárias", afirmou à publicação.

Além do potássio, o Canadá fornece aos produtores dos EUA quase 25% dos fertilizantes de nitrogênio e 20% do enxofre usados pelos produtores americanos.

Segundo a TFI, em 2023, os EUA importaram US$ 10 bilhões em fertilizantes de nitrogênio, fósforo e potássio, sendo metade do Canadá.

Promessa de ajuda

Sabendo as consequências econômicas para o setor, a secretária de Agricultura Brooke Rollins prometeu ter um plano pronto para os agricultores, se necessário. Em 2019, no primeiro mandado de Donald Trump, foi implantado o Programa de Facilitação de Mercado (MFP), que forneceu pagamentos diretos aos produtores impactados por tarifas retaliatórias.

“Tudo está na mesa agora. Tudo. Sei que o presidente Trump, com quem falo regularmente, percebe o estado da economia agrícola neste país”, disse Rollins, no domingo, à Commodity Classic.

“Da última vez, eu sei, ele pressionou o secretário Perdue para garantir que fôssemos capazes de compensar — da melhor forma possível — alguns daqueles, e espero que a maioria daqueles, se não todos, que foram prejudicados. Estamos construindo a equipe no USDA para garantir que temos a estrutura e o plano em vigor para nos permitir agir muito rapidamente”, completou.

Fonte: Globo Rural