Programas ambientais são o 'cartão de visitas' de fazenda de cana-de-açúcar
23-09-2024

A São Manoel criou programas para beneficiar a população do entorno, conta o administrador Diego de Oliveira — Foto: Ricardo Benichio
A São Manoel criou programas para beneficiar a população do entorno, conta o administrador Diego de Oliveira — Foto: Ricardo Benichio

Trabalho da Fazenda São Manoel foi reconhecido pelo 8º Prêmio Fazenda Sustentável

Por Eliane Silva — São Manuel (SP)

Quando comprou a fazenda de 1.592 hectares ocupada por eucaliptos em São Manuel (SP) para plantar cana-de-açúcar, em 2008, o empresário Carlos Dinucci já tinha planos de transformá-la em uma propriedade sustentável. Com o mantra “o futuro é das crianças, temos que conservar o meio ambiente”, Dinucci, dono da Usina São Manoel, criou uma série de programas ambientais que hoje são o cartão de visitas da Fazenda São Manoel.

O trabalho desenvolvido na São Manoel foi reconhecido na oitava edição do Prêmio Fazenda Sustentável, uma iniciativa da Globo Rural em parceria com o Rabobank e o Imaflora, e com patrocínio de Cargill e TIM. A fazenda ficou em segundo lugar na categoria Grande Propriedade.


Foto: Thiago de Jesus

Instalada no bioma Cerrado, a propriedade rural, que antes pertencia ao grupo Eucatex, do ex-governador, ex-deputado e ex-prefeito Paulo Maluf, produz 125.000 toneladas de cana por ano. A transformação sustentável da propriedade começou com a restauração das áreas degradadas, tendo como norte um estudo da Esalq/USP que identificou todas as espécies vegetais do bioma e também da Mata Atlântica. Depois, o novo proprietário construiu, na área da usina, um viveiro, que tem hoje 94 espécies de árvores e plantas nativas e capacidade de produzir 200.000 mudas por ano.

Os funcionários do viveiro coletam as sementes, as beneficiam e plantam as mudas em áreas de preservação e também nos corredores ecológicos, que conectam fragmentos de florestas e áreas de preservação permanente (APPs) e, com isso, tornam possível a livre circulação de animais e a propagação da flora. Na São Manuel, que abriga três nascentes e rios que são afluentes da Bacia do Rio Araquá, o corredor ecológico tem 14 hectares. Somados os seis corredores em todas as 27 fazendas do grupo, são, ao todo, 34 hectares de corredores ecológicos.

O Bicho Vivo, outro dos programas ambientais da São Manoel, monitora os animais nos corredores e, em parceria com a Unesp, a Polícia Ambiental e a prefeitura de São Manuel, solta em áreas das fazendas os animais resgatados. Na propriedade, já se conseguiu avistar espécies como onça, lobo-guará, tamanduá e raposa-do-campo, além de libertar 582 animais.

A fazenda também tem oferecido educação ambiental a crianças de escolas particulares e municipais de São Manuel. Esse trabalho incluiu a criação de uma trilha para visitação da propriedade, que recebe 500 estudantes ao ano como parte do projeto Doce Amanhã.

A São Manoel criou ainda o projeto Ciclo do Mel, em que cedeu áreas de sua vegetação nativa para apicultores de uma associação de Botucatu, uma cidade vizinha, instalarem caixas de abelhas para posterior coleta de mel. O local já abriga 600 caixas, que produzem 1.800 quilos de mel por ano. A iniciativa, que também está em outras oito fazendas, já beneficia 56 famílias. Como contrapartida, elas doam parte do mel a uma instituição social.

“Além de representar um benefício social, o projeto aumenta o número de abelhas, animais muito sensíveis a defensivos agrícolas. Isso é um importante indicador biológico para a São Manoel, porque mostra nosso rigor na aplicação dos químicos”, afirma Diego Victorino de Oliveira, coordenador administrativo da propriedade.

Segundo ele, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é aplicado em toda a área produtiva da fazenda. Desde 2000, o grupo adotou a soltura de vespas por drones nos canaviais para o controle de pragas. Atualmente, toda a área da São Manoel e mais 20 mil hectares em outras fazendas do grupo têm o manejo por drones.

Com fábrica de fertilizantes própria instalada na área da usina, a complementação da adubação é feita com fertilizantes orgânicos, como vinhaça e torta de filtro, “produzidos” na planta industrial, a partir do processamento da cana.

A fábrica tem capacidade de produzir 430 toneladas por dia. As embalagens de agrotóxicos são lavadas três vezes e entregues no centro de triagem da cidade.

O transporte de cana para a usina é feito, em sua maioria, por caminhões próprios que puxam cinco ou seis carretas de cana. Os hexacaminhões, que estão estreando nesta safra, levam até 135 toneladas de cana por vez. Para comparar, um rodotrem carrega 75 toneladas.

“A opção pelas múltiplas carretas se deve a uma preocupação com a redução das emissões de gases pelos veículos. Georreferenciados, esses caminhões só trafegam em estradas de terra, mantidas pela usina, num raio médio de 23 km”, explica o coordenador administrativo.

Trabalho sustentável

Segundo a companhia, a fazenda possui certificações voltadas à produção sustentável da cana como Bonsucro, RenovaBio e Etanol Mais Verde, além de garantir a rastreabilidade da matéria-prima para os produtos finais açúcar e levedura, certificados pelas normas de segurança de alimentos FSSC 22000 e GMP+.

Com capacidade de processar 4,3 milhões de toneladas de cana, o grupo tem, ao todo, 2.300 funcionários. Desse contingente, 12% são mulheres; há quatro anos, a fatia era de oito. A meta, segundo Oliveira, é chegar a 16% em 2030. Nos quadros de gestão, as mulheres ocupam apenas 3% dos cargos.

Luciana Ferreira dos Santos Gonçalves, que trabalha na São Manuel há 16 anos, é uma das três mulheres que hoje operam colheitadeiras de cana-de-açúcar na propriedade. Ex-cobradora de ônibus, ela começou na fazenda como tratorista, destacou-se e recebeu capacitação para atuar na colhedora – e, hoje, trabalha no ar-condicionado e ganha mais do que receberia em outro emprego com sua formação de ensino médio.

Agora, a companhia vai implantar um novo programa de estímulo à diversidade em todas as fazendas e na usina. Batizado de Soma, ele inclui gênero, raça, gerações, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIA+.

Fonte: Globo Rural