Progressos das pesquisas com variedades de cana no Mato Grosso do Sul
02-03-2015

Após 8 anos de seleções, os melhores materiais genéticos entrarão em experimentos no MS em 2015. Nos próximos anos, podem surgir variedades genuinamente sul-mato-grossenses


De 21 a 23 de janeiro deste ano, Maracaju, no interior do Mato Grosso do Sul, recebeu um dos principais eventos de tecnologia agrícola do estado, o Showtec. Ao lado de outras atividades agropecuárias, a cana-de-açúcar teve espaço na feira para difundir tecnologias e conhecimentos por meio do “1º Seminário Agrícola 2015: Manejo Varietal de Cana-de-açúcar”, promovido pela Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul).
O seminário contou com a participação de profissionais de usinas e fornecedores de cana de todo o estado. Uma das palestras foi proferida pelo pesquisador Antônio Ribeiro, do PMGCA (Programa de Melhoramento Genético de Cana-de-açúcar) da UFSCar, integrante da Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético da Universidade Federal de São Carlos).
Ribeiro realiza pesquisas na Estação Experimental de Valparaíso, SP, que pertence à UFSCar e é responsável por acompanhar de perto os estudos com variedades de cana no Mato Grosso do Sul.

MANEJO VARIETAL NO MS
Na palestra que realizou durante o Seminário, Ribeiro apresentou todos os trabalhos de melhoramento genético realizados no MS pela Ridesa/UFSCar. “O desenvolvimento de variedades no estado acontece desde a época do Planalsucar (Programa Nacional de Melhoramento de Cana-de-açúcar). Após a extinção deste órgão, a Ridesa/UFSCar deu continuidade na condução dos trabalhos, introduzindo no estado variedades RB para testes e clones para experimentação, conjuntamente com o Estado de SP”, explica.
Em 2006, por meio de parceria com a Usina Eldorado, então do Grupo Benedito Coutinho e que atualmente pertence à Odebrecht Agroindustrial, foi criada a primeira estação de desenvolvimento de variedades RB dentro do Estado (a primeira no MS e que continua em atividade). Foram introduzidos 20 mil seedlings, ou seja, 20 mil novos clones, de diferentes cruzamentos. Após avaliações e seleções nos últimos 8 anos, os melhores materiais genéticos (aproximadamente 20 precoces e 25 médios e tardios) entrarão em uma Rede de Experimentos no MS em 2015. “Espera-se, com esse trabalho, o desenvolvimento de possíveis variedades RB com origem de seleção no Estado do MS nos próximos anos.”

QUATRO POSSÍVEIS LIBERAÇÕES
Segundo Ribeiro, além desse trabalho pioneiro no Estado, a Ridesa/UFSCar apresentou no seminário quatros clones RB que entraram no MS em experimentos e que são considerados possíveis liberações como variedades. São a RB975952, a RB985476, a RB975242 e a RB975201. “Vale a pena salientar que estes materiais foram desenvolvidos em experimentação no Estado do MS, conjuntamente com o Estado de SP.”

- RB975201 - Para entender a importância desse processo para o Mato Grosso do Sul, o clone RB975201 já aparece como o 10º material mais plantado no MS, de acordo com o último censo varietal, superando o plantio de variedades como CTC9, SP83-2847, SP80-1842, SP81-3250, RB935744, CV-7870, CTC20, entre outras. “Esse rápido crescimento da RB975201 se dá principalmente pelas suas características agronômicas, como alto TCH, alto ATR, rápido desenvolvimento, resistência às principais doenças, ausência de florescimento e chochamento, alto perfilhamento com excelente brotação no plantio e nas soqueiras sob mecanização”, diz Ribeiro. Outra característica importante: é material para colheita no final de safra nos ambientes intermediários a favoráveis, uma janela importante dentro do manejo de colheita, que possui poucas alternativas de variedades.

- RB985476 - Outro clone que está agradando muito as usinas é o RB985476. Material de elevada sanidade, apresenta alta produtividade e alto ATR no meio de safra, superando todos os padrões em experimentos e já em áreas pré-comerciais. Apresenta perfilhamento intenso, além de diâmetro e altura muito uniformes. Deverá ser trabalhado nos ambientes intermediários a favoráveis, podendo ser alocado nos mesmos ambientes de SP81-3250. “Várias usinas já estão preparando os viveiros com RB985476 com a finalidade de substituir a SP81-3250.”

- RB975952 - Já a RB975952 é um clone tão precoce como a RB855156. “É a variedade mais precoce em escala comercial na Região Centro-Sul”, frisa o pesquisador. Além da precocidade, a RB975952 destaca-se pela alta sanidade, ausência de florescimento e chochamento, podendo ser trabalhada até o meio de safra. Porém, o ideal seria a colheita de cana-planta no início de safra devido ao tombamento que pode ocorrer, já que o material nesse ciclo apresenta-se com alto TCH e hábito de crescimento semidecumbente. O período de corte pode caminhar ao longo da safra nas soqueiras, como 13 ou 14 meses de idade. Esse manejo pode agregar muito em produtividade de açúcar com esse clone.

- RB975242 - A RB975242 é recomendada para o meio de safra nos ambientes restritivos e final de safra nos intermediários. Alta produtividade e rusticidade são os destaques desse material. Além disso, ausência de florescimento e chochamento, e sua ótima estabilidade são características que têm chamado a atenção.


A variedade RB965902 também foi alvo da apresentação. Ribeiro relata que, liberada em 2010 pela UFSCar, tem ganhado área nos últimos anos e se firmado como uma ótima variedade, dando segurança aos produtores. “Sim, segurança! É um material muito resistente ao Carvão, à Ferrugem Marrom e à Ferrugem Alaranjada; possui alta produtividade agrícola e é muito rica. A brotação de soqueira sob máquinas é excelente, com alta população de perfilhos no estande.” Com a seca nos últimos anos, essa variedade mostrou boa tolerância ao déficit hídrico. Isso tudo tem colaborado para a confiabilidade nesse material genético. O Censo 2014 provou isso: a RB965902 foi a 10ª mais plantada nos Estados de SP e MS. Só no Mato Grosso do Sul foi a 4ª mais plantada, superando o plantio de RB855536, CTC4, RB92579, RB855453, entre outras, e já aparece como a 12ª mais cultivada nos quase 443 mil hectares do MS.
Na palestra realizada por Ribeiro, o Censo Varietal do Estado do MS em 2014 foi abordado. Participaram deste censo 12 usinas, com levantamento da participação de variedades no plantio (uma área de 70.265 ha) e no cultivo (442.711 ha).


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