Projeção de excedente global de açúcar pode chegar a 6,5 milhões de toneladas
22-09-2025

Declaração é da gerente sênior de inteligência de mercado da BP Bioenergy

Por Andréia Vital

“O mercado vem operando em uma faixa estreita de 16 a 17 centavos por libra-peso. O volume de contratos negociados também ficou abaixo da média entre julho e agosto e a queda de mais de 17% desde o início do ano antecipa um superávit previsto para o ciclo 2025/26”, destacou Luciana Torrezan, gerente sênior de inteligência de mercado da BP Bioenergy, durante o painel Mercado de açúcar: visões de preços, balanço global e planejamento frente a desafios, da 8ª edição da Conferência da NovaCana, realizada nos dias 15 e 16 de setembro, em São Paulo.

Neste cenário, a expectativa para a safra 2025/26 é de transição de déficit para superávit, com projeções que variam de equilíbrio próximo a zero até 6,5 milhões de toneladas de excedente.

No Brasil, a produção de açúcar deve encerrar a safra corrente entre 40 e 40,5 milhões de toneladas, influenciada pela disputa entre açúcar e etanol no mix das usinas. Uma moagem próxima a 620 milhões de toneladas já é estimada para a temporada, mas o clima, aliado à escassez de áreas disponíveis para plantio, pode alterar esse cenário.

Na Índia, outro grande player do mercado global de açúcar, o superávit é esperado para este ano, com a produção variando entre 10,5 e 12 milhões de toneladas. No entanto, a escassez de chuvas nas regiões nordeste e o impacto de doenças têm feito com que as estimativas diminuam para 10,6 milhões de toneladas. Esse volume também influencia o mercado global, já que a Índia deve exportar aproximadamente 2 milhões de toneladas, o que adiciona incerteza sobre o preço de exportação. O país enfrenta dificuldades de manter a paridade de exportação, com o preço doméstico muito semelhante ao da exportação, o que pode afetar a viabilidade das exportações.

A expectativa de crescimento do consumo de açúcar global tem mostrado uma desaceleração, com taxas caindo de 3% ao ano no início dos anos 2000 para 0,7% nos últimos oito anos. Esse declínio pode ser explicado pela crescente preocupação com a saúde pública, impostos sobre o consumo de açúcar e mudanças nos hábitos alimentares, que limitam a demanda. Além disso, novos tratamentos de emagrecimento, como medicamentos análogos ao GLP-1, podem reduzir a ingestão de calorias, impactando ainda mais o consumo de açúcar nos próximos anos. A expectativa é que o mercado global cresça modestamente em torno de 1,3 milhão de toneladas anuais, o que representa uma redução considerável se comparado ao passado.

Diante do quadro, Nova York deve manter preços próximos ao piso de 15 centavos, referência de paridade com o etanol no Brasil, até o primeiro trimestre de 2026. O mercado, no entanto, segue atento: qualquer redução na produção brasileira pode abrir espaço para um rali de preços no curto prazo.