“Quem não tiver condições de produzir energia, pode vender a biomassa”
08-09-2015

No final de agosto, o governo paulista lançou o projeto 'São Paulo na rede elétrica', que tem como objetivo principal a ampliação da participação de energias renováveis na matriz energética. "Percebemos que São Paulo precisa esgotar o potencial das suas alternativas de energia e introduzir, definitivamente, a energia do bagaço da cana. Com ela, conseguiremos ampliar a produção de energia elétrica do Estado”, afirma o secretário de Energia do Estado, João Carlos de Souza Meirelles.

Segundo o Governo Paulista, das 166 unidades sucroenergéticas do estado, 20% estão concentradas em um raio de 100 quilômetros da cidade de Morro Agudo, onde passa um linhão de transmissão de energia, por isso, em Morro Agudo será construída uma subestação de energia.

Dessas unidades, 34 produzem energia e 10 delas já estão programadas para aumentar seus potenciais de geração. "Juntas, essas unidades aumentarão em 237 MW suas gerações. Esse adicional consegue abastecer três cidades do tamanho de Sertãozinho, por exemplo.” As outras 24 necessitarão realizar investimentos para passarem a exportar energia.
Para levar a energia produzida pela usina ao sistema interligado, é preciso construir a linha de transmissão. Pelas regras do sistema, esse investimento deve ser feito pelas unidades sucroenergéticas, o custo médio por km é de R$ 700 mil. A linha depois de pronta é doada para a concessionária de energia, que passa a assumir o ônus da manutenção dessa estrutura.
Segundo especialistas, assumir a construção dessa linha de transmissão tem sido o maior empecilho para que mais unidades sucroenergéticas entrem para o negócio da bioeletricidade. Antonio Gilberto Gallati, diretor da TGM, empresa de Sertãozinho, SP, diz que o valor oferecido nos leilões de energia - o último foi em 24 de julho e o valor foi de R$ 210,00/ MWh – inviabiliza o investimento, ainda mais nessa época de crise em que o setor está descapitalizado. Para que o setor produza mais energia, Gallati pede auxilio ao governo paulista, como a liberação de recursos com juros menores e longo prazo para pagamento.
Mas, segundo João Carlos de Souza Meirelles, produzir bioenergia é um empreendimento financeiro. “Uma usina de açúcar não é uma Santa Casa de Misericórdia para receber doações. É um empreendimento econômico-financeiro. Se algumas usinas já participaram do leilão e vendem ou venderam energia, é porque é um negócio viável. “Se para uns é possível, porque não é para os demais?”, pergunta o Secretario – no último leilão apenas uma usina fechou contrato.

Meirelles salienta que o setor precisa sair da dependência do Estado, parar de querer que o Estado banque tudo. “Estamos prontos para dar apoio, criar estrutura e oferecer condições. Se por acaso não tem recursos, mas tem patrimônio e garantias, existem empréstimos para isso. Não é nada complicado: é fazer o engate até a primeira subestação. Isso é encargo dele. Mas se tiver alguma dificuldade, pode procurar a Secretaria para que se possa estudar uma saída”, diz.

Para ele, o grande problema hoje é, em primeiro lugar, qual o volume de produção de cana que permite que se tenha bagaço suficiente para compensar comprar uma turbina e uma caldeira. Às vezes a escala da matéria-prima não é proporcional. Para quem tiver uma pequena produção, pode ser mais interessante vender a biomassa para outra usina canavieira, ou outro tipo de indústria. “Existem várias empresas, como da área de alimentos, que compram bagaço, que hoje está mais caro do que a cana.”
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