Quer estudar de graça em uma fazenda do interior paulista?
21-10-2024

Grupo de alunos baianos da Etasa em Santa Rita do Passa Quatro (SP) — Foto: Divulgação
Grupo de alunos baianos da Etasa em Santa Rita do Passa Quatro (SP) — Foto: Divulgação

Curso de técnico agropecuário da Etasa oferece bolsas de alimentação, transporte e moradia

Por Eliane Silva — Santa Rita do Passa Quatro (SP)

Em julho, seis jovens de 18 a 24 anos de Itiúba, no sertão baiano, se formaram em um curso gratuito de técnico agropecuário a quase 2 mil km de distância de casa. Além de não pagar mensalidade, eles receberam bolsas de transporte, alimentação e moradia. Com o diploma e o conhecimento adquirido nas aulas em período integral em uma fazenda de 494 hectares em Santa Rita do Passa Quatro (SP), voltaram para casa com o objetivo de criar uma horta comunitária e tornar rentáveis os sítios de suas famílias.

A oportunidade foi proporcionada pela Escola Técnica Agropecuária Salvador Arena (Etasa), instituição mantida pela Fundação Engenheiro Salvador Arena, que abre as inscrições para sua sétima turma neste domingo, 20 de outubro. Podem se inscrever adolescentes, jovens e adultos de todo o país que tenham o ensino médio, mas não tenham concluído nenhuma faculdade.

São oferecidas 40 vagas para uma formação intensiva em dois semestres abrangendo conhecimentos de agronomia, zootecnia, gestão ambiental e engenharia agrícola. Na Etasa, fundada em 2021, em plena pandemia, os alunos têm aulas teóricas e práticas em período integral, vivenciando diariamente as atividades da fazenda que tem cultivo de sojamilhocafé, horta e criação de gado bovino e galinhas.

As inscrições para a turma que inicia os estudos no primeiro semestre de 2025 se encerram em 20 de novembro. Além das aulas, segundo o coordenador da escola, Wolliver Anderson Dias, os estudantes têm o apoio do Núcleo de Apoio às Carreiras (NAC), que oferece workshops, suporte para estágios e incentivo ao empreendedorismo.

Os interessados devem se inscrever pelo site oficial da Etasa.

Dividindo sonhos

Os seis alunos vindos de um projeto social do Lar Santa Maria de Itiúba dividiram sonhos e uma casa em Santa Rita do Passa Quatro durante os 12 meses de curso. Isaac de Souza Amaral, 18 anos, por exemplo, se apaixonou rapidamente pelas aulas práticas com os bovinos de corte e leite.

“Minha cidade não oferece oportunidade de trabalho para os jovens. A gente tem que sair para trabalhar e estudar depois do ensino médio. Então, aproveitei a oferta de gratuidade para fazer o curso e aplicar o que aprendi no pequeno sítio onde meu pai cultiva milho e cria gado para consumo próprio.”

Isaac, no entanto, também concluiu o curso com espírito empreendedor. Ele aprendeu noções de marketing e como produzir kombucha, uma bebida fermentada, de origem chinesa, feita a partir de chá, açúcar e uma cultura de bactérias e leveduras. Na volta para casa, junto com o colega de classe Maurício Moraes de Souza, também de 19 anos, tem planos de abrir uma pequena fábrica para saborizar a bebida probiótica com umbu, uma fruta natural de sua terra.

“É uma oportunidade de negócios para atender quem prefere uma bebida natural a um refrigerante.”

Maíra da Silva Santana, 23 anos, veio de um assentamento em Itiúba. Antes do curso, trabalhava em um açougue e ajudava a mãe a cuidar das hortaliças no sítio da família. “Vim para a Etasa pensando em dar uma vida melhor para os meus pais. Com o aprendizado de novas técnicas, volto para melhorar e transformar nossa horta em um negócio que dê dinheiro.”

Paola Souza Santos, 19 anos, também voltou para Itiúba com a missão de ajudar os pais no pequeno sítio que tem rocinha de milho, feijão, abóbora e melancia, mas, após concluir seu TCC de impacto do estresse térmico nos bovinos, quer ir além e fazer faculdade de veterinária.

“Provavelmente, vou ter que estudar a 40 km de distância de casa, mas acho que o sacrifício vai valer a pena.”

Maurício da Silva, 24 anos, e Lohane Rocha dos Santos, 19 anos, decidiram aproveitar a oportunidade de fazer o curso sem nenhum custo na Etasa por curiosidade e acreditam que as lições aprendidas podem abrir caminhos profissionais para eles na sua região.

Os jovens são a maioria entre os 80 alunos da escola técnica, mas há espaço também para os veteranos. Ricardo Pires de Souza, 69 anos, funcionário público aposentado na capital paulista, se formou junto com a turma dos baianos.

“Foi um choque de geração, mas nunca tinha visto uma escola que te paga para estudar… Decidi aproveitar para aprender um pouco sobre agricultura e pecuária, atividades que nunca estiveram no meu radar. Ainda tenho vontade de trabalhar e, quem sabe, consigo um emprego de técnico agrícola em uma fazenda da região”, diz Ricardo, que fez seu trabalho de conclusão de curso focado no combate ao greening, principal doença da laranja que tem provocado muitas perdas nos pomares do interior paulista.

Como é a “sala de aula”

A fazenda que leva o nome de Agroindustrial Salvador Arena e abriga as aulas da escola técnica foi comprada pela fundação em 2018. Antes, a área era arrendada para cana e amendoim. Daniela Merida, engenheira agrônoma que administra a fazenda, diz que anualmente são cultivados 300 hectares de soja e milho, sendo 145 hectares irrigados por três pivôs. Apenas a soja, que tem uma produtividade média de 60 a 65 sacas por hectare, é comercializada.

Os outros produtos agrícolas (milho, café e hortifrútis) são destinados aos restaurantes da Etasa e ao centro educacional gratuito em São Bernardo do Campo que oferece vagas desde a educação infantil até a faculdade. A cada ano, cerca de 5.000 inscritos disputam as vagas no centro, que também é mantido pela fundação.

Os alimentos da fazenda abastecem também as unidades industriais da gigante metalúrgica Termomecânica, fundada pelo engenheiro ítalo-brasileiro Salvador Arena, que morreu em 1998 sem filhos, deixando a herança para a fundação.

Os ovos da granja com 3.500 galinhas livres de gaiola também vão para os restaurantes, assim como a carne dos bovinos da raça nelore. No ano passado, a fundação investiu na instalação de uma fábrica de ração na fazenda e em um projeto-piloto de ILP (Integração Lavoura-Pecuária) em uma área de 20 hectares com 35 animais.

Com reserva legal de 82 hectares e reservatório de 40 milhões de litros de água, a agropecuária tem 26 câmeras instaladas que, além de garantir a segurança, permitem a observação de animais como capivaras, onças, porcos-do-mato, veados, raposa e seriemas.

Fonte: Globo Rural