Radar Agro Itaú BBA – O balanço de etanol e a volta do consumo
12-08-2020

Se a conjuntura atual do mix de açúcar das usinas permanecer em patamares próximos aos 47%, o balanço de etanol pode ficar apertado no final da safra

As expectativas no início do ano eram muito positivas para a safra 2020/21. Os preços do açúcar eram negociados em patamares próximos dos cUSD16,0/lp em NY e o hidratado cotado a R$2,50/L na usina.  À época, o mercado projetava que o mix de açúcar das usinas seria entre 37%-40%, caminhando de forma gradual e mais equilibrada para o aumento da produção do adoçante frente ao déficit que se desenhava no mercado global em função das quebras da Tailândia e da Índia.

Contudo, o evento inesperado - COVID-19 - e os seus desdobramentos chacoalharam os fundamentos do setor sucroenergético. Do lado do etanol, a queda abrupta dos preços do petróleo e a redução do consumo - na esteira das medidas de contenção social - afetaram drasticamente suas cotações, sendo que em maio o biocombustível chegou a ser negociado em níveis inferiores ao custo caixa médio das usinas. No caso do açúcar, apesar da queda das cotações em Nova Iorque, a desvalorização cambial fez com que os preços do produto em moeda nacional no porto oscilassem entre R$ 1.400 e 1.500 por tonelada. Essas boas cotações atreladas ao cenário mais desafiador para o etanol têm levado as usinas maximizarem o mix para o adoçante.

Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) indicam que até a 2ª quinzena de julho 47% da produção do ATR foi destinada ao açúcar. E tudo indica, dado o diferencial de preços entre os dois produtos e o nível de fixação das usinas, que o mix seguirá mais orientado para a produção de adoçante. Nesse sentido, e diante dos sinais de afrouxamento das medidas de contenção da Covid-19 em algumas regiões, umas das questões que surgem é como ficará o balanço de etanol caso tenhamos uma recuperação gradual do consumo.

A RETOMADA DO CONSUMO E A OFERTA DO BIOCOMBUSTÍVEL

Para ajudar a dar luz a essa questão, fizemos uma análise de sensibilidade em que combinamos cenário de mix de açúcar na safra 20/21 e de consumo de etanol na bomba. Para tanto, usamos as premissas abaixo:

- Estoque inicial de etanol: 2,3 bilhões de litros;

– Estoque final de etanol: 1,8 bilhões de litros;

– Exportação de etanol:2,5bilitros, + 30% sobre a safra19/20;

 – Produção de etanol de milho: 2,6 bi litros, 56% sobre a safra 19/20;

 – Moagem total: 600mm toneladas;

 – ATR médio:140Kg de ATR/ton de cana.

É válido destacar que as vendas externas já acumularam 0,67 bilhão de litros nos primeiros quatro meses da safra, aumento de 64,3% frente ao mesmo período no ano passado. A partir das premissas descritas anteriormente e ajustadas aos diferentes cenários de mix de açúcar, é possível chegar a uma disponibilidade de etanol para a safra 20/21 variando entre 25,8 à 28,3 bilhões de litros, volumes inferiores aos 32,6 bilhões de litros consumidos na safra 2019/20.

O cenário atual ainda é folgado em relação ao balanço, visto que nos três primeiros meses da safra atual a queda do consumo do etanol totalfoide26%emrelaçãoaomesmoperíododasafrapassada.Contudo, as quedas mensais tem se reduzido ao longo dos meses com as flexibilizações, o que pode sinalizar uma recuperação gradual do consumo. Em junho, a queda de consumo de etanol frente ao mesmo mês em 2019 foi de18,1%.

Se a conjuntura atual do mix de açúcar das usinas permanecer em patamares próximos aos 47%, como o visto na última quinzena de junho, o balanço de etanol pode ficar apertado no final da safra. No caso mais otimista, em que a recuperação gradual do consumo nos meses vindouros implique em uma redução total de consumo anual de etanol na casa de apenas 10%, a necessidade de importação de etanol chegaria a 2,5 bilhões de litros, considerando o mix de açúcar atual.

OS IMPACTOS NOS PREÇOS DO ETANOL

Um cenário de balanço apertado de etanol e uma eventual necessidade de importação tendem a dar um tom mais positivo para as cotações no final da safra. Isso porque, nessas condições, a relação entre os preços da gasolina e do etanol na bomba devem voltar para patamares elevados. Esse aumento da paridade combinado às curvas futuras do RBOB e da taxa de câmbio indicam que os preços médios do etanol hidratado nas usinas em São Paulo poderiam ser negociados ao redor R$ 1,93/L durante a entressafra. Além disso, considerando os preços futuros do etanol de milho dos Estados Unidos, nossas estimativas sugerem que o etanol anidro importado chagaria ao Brasil cotado a R$2,24/L,17,2% superior à cotação atual do biocombustível (sem impostos). Entretanto, é importante ter no radar que caso a taxa de câmbio se aprecie os aumentos esperados das cotações poderão ser minimizados.

Divulgação: CanaOnline – Informações Radar Agro Itaú-BBA