Raízen acredita que produtores de etanol serão incapazes de atender à demanda por E2G
13-11-2023

O fornecimento de etanol celulósico pode ser prejudicado pela falta de unidades que produzam o biocombustível feito a partir de resíduos da cana-de-açúcar em conformidade com a regulação da União Europeia. Mas novas plantas no Brasil, que entrarão em operação ao longo da safra 2024/25, devem aliviar a crise de abastecimento, disse um porta-voz da gigante sucroenergética Raízen.

“Temos mais demanda do que podemos atender agora”, disse o vice-presidente de trading da Raízen, Paulo Neves, à S&P Global Commodity Insights. “A venda destes produtos nos próximos dez anos está totalmente comprometida”, completa.

A produção de etanol celulósico – um produto de segunda geração – envolve a palha da cana, mas também o bagaço e outras matérias-primas residuais, que são geradas durante a produção do combustível de primeira geração. Na Raízen, as usinas de etanol de primeira e segunda geração são integradas.

A tecnologia desenvolvida pela empresa durante os últimos dez anos cumpre os requisitos da União Europeia para energias renováveis, uma vez que a palha e o bagaço da cana são considerados resíduos.

A Raízen estabeleceu como meta ter 20 usinas de etanol de segunda geração até 2030. Atualmente, há cinco unidades em construção, com lançamento previsto entre 2024 e 2025, e mais três em planejamento. Juntas, elas representarão uma capacidade instalada anual para a produção de, aproximadamente, 1,6 bilhão de litros.

Além disso, a Raízen já vendeu 4,3 bilhões de litros de etanol celulósico por meio de contratos de longo prazo. Este volume inclui um acordo assinado com a Shell em 2022, comprometendo-se a fornecer 3,3 bilhões de litros até 2037. Os contratos de longo prazo representam 80% da produção de cada planta.

Por conta disso, novas usinas estão sendo estudadas, mas Neves explica que as obras levam entre seis e 18 meses. “Não há capacidade ociosa disponível para mais açúcar no Brasil, não há capacidade ociosa em nenhum lugar do mundo”, disse.

Segundo o executivo, vários anos de preços baixos do açúcar sufocaram os investimentos e, agora, em meio a um crescimento anual na demanda de 2 milhões de toneladas, não há capacidade disponível. Com este cenário, os preços dispararam ao longo de 2023.

Entregas para a Europa

Isto ocorre em meio ao crescente escrutínio na Europa sobre as chegadas de etanol, sejam elas do Brasil ou de outros países. O continente é considerado relevante como destino de exportação do etanol brasileiro, mas está atrás da Califórnia e do Japão.

“Não há outra matéria-prima na regulação europeia que traga a economia que o etanol celulósico traz ou o volume que ele tem para ajudar na descarbonização na Europa”, disse Neves. As cotas de primeira geração, acrescenta, são preenchidas com a produção doméstica; assim, resta apenas a demanda por biocombustíveis avançados.

As taxações para importação também representaram uma barreira à Europa, completa. Os volumes enfrentam uma tarifa de 192 euros por metro cúbico (US$ 204/m³) para material não desnaturado e de 102 euros por metro cúbico para o desnaturado, que não pode ser utilizado em bebidas ou outros produtos para consumo.

As importações de etanol para a Europa desaceleraram nas últimas semanas, sustentando os preços, segundo traders europeus. A Platts, parte da S&P Global, avaliou o Etanol T2 FOB Rotterdam em uma média de 800 euros por metro cúbico durante setembro e outubro, em comparação com uma média de 752 euros por metro cúbico em janeiro.

Esta é uma área a observar. A Comissão Europeia introduzirá vigilância retroativa sobre as importações de etanol para combustível feitas nos últimos três anos. O objetivo é proteger os produtores da União Europeia após a identificação de uma tendência de maiores fluxos para o continente, afirmou um documento legislativo publicado em 15 de setembro.

A decisão se segue a um aumento nas importações de etanol para a UE desde o início da década, com uma alta anual de 45% entre 2021 e 2022, disse a Comissão Europeia.

Os EUA, o Brasil e o Peru foram os três principais exportadores de etanol para o bloco em 2022. As exportações dos EUA e do Brasil para a UE aumentaram 96% e 37%, respectivamente, entre 2021 e 2022, enquanto o Peru registou uma diminuição de 13%.

Fonte: S&P Global Commodity Insights

Do site: Siamig