Realidade, colheita de duas linhas simultâneas leva canaviais a um novo patamar produtivo
11-08-2023

Colheita de duas linhas simultâneas e independentes já é considerado o segundo grande salto tecnológico do setor bioenergético nacional. Foto: Leonardo Ruiz
Colheita de duas linhas simultâneas e independentes já é considerado o segundo grande salto tecnológico do setor bioenergético nacional. Foto: Leonardo Ruiz

Redução da compactação e do custo de colheita, aumento da produtividade e longevidade dos canaviais estão entre os benefícios proporcionados pela CH950, colhedora de duas linhas simultâneas da John Deere

Por Leonardo Ruiz

A primeira grande revolução tecnológica do setor bioenergético foi a introdução das colhedoras de cana crua, movimento que teve início na década de 1990 e que culminou no fim do corte manual da cana-de-açúcar em áreas mecanizáveis. Além de maior rendimento operacional, a extinção da queima e o início da mecanização reduziram o impacto ambiental da operação ao mesmo tempo em que melhoraram as condições de trabalho dos colaboradores.

Após anos de aprendizado e adaptações, o sistema está consolidado. Hoje, 97% da colheita na região Centro-Sul do país é realizada por meios de colhedoras automatizadas. Agora, montadoras, unidades bioenergéticas e fornecedores se preparam para o que pode ser considerado o segundo grande salto tecnológico do segmento: a transição da colheita mecanizada de cana crua de uma para duas linhas.

Com início em meados da década de 2010, esse movimento ganhou força nos últimos anos com a chegada da CH950 ao mercado nacional, colhedora de duas linhas da John Deere desenvolvida especialmente para os canaviais brasileiros. Essa máquina se destaca por sua capacidade de colher, de forma simultânea e independente, duas linhas de cana-de-açúcar no espaçamento simples (1,40 m ou 1,50 m) e na mesma velocidade das colhedoras de uma linha, promovendo benefícios operacionais e agronômicos.

CH950 tem capacidade de colher, de forma simultânea e independente, duas linhas de cana-de-açúcar no espaçamento simples (1,40 m ou 1,50 m) e na mesma velocidade das colhedoras de uma linha, promovendo benefícios operacionais e agronômicos

Foto: Divulgação John Deere

O diretor de Vendas da John Deere Brasil, Marcelo Lopes, afirma que colher duas linhas simultâneas e independentes no espaçamento simples e com alto rendimento não é mais um sonho, já é realidade. “A CH950 está entrando em sua quarta safra em operação. Hoje, ela está presente em diversas usinas e agrícolas do Centro-Sul, trazendo o futuro para mais perto de nós e levando o setor a um novo patamar produtivo.”

O profissional destaca os diversos benefícios entregues pelo modelo. “O RowAdapt é um sistema de alimentação inovador que permite que a CH950 colha duas linhas de cana na mesma velocidade das máquinas tradicionais. Por conta disso, ela consegue entregar uma redução de 50% nas perdas, tanto no corte de base como também no extrator primário, de 28% na utilização de tratores de transbordo, de 30% no consumo de combustível e de 36% na necessidade de mão de obra. Considerando as porcentagens citadas, é possível alcançar uma diminuição de, aproximadamente, 22% no custo por tonelada.

Mas a CH950 não se destaca unicamente por sua maior rentabilidade. A parte agronômica não foi esquecida. “A bitola dessa máquina permite que ela ande exatamente no centro da entrelinha. Apelidado de ‘canteiro’ ou ‘pista de tráfego’, esse conceito implica em uma redução de 50% da área compactada, fato que beneficia a brotação e o desenvolvimento das soqueiras, impactando positivamente na produtividade e longevidade dos canaviais.”

Marcelo Lopes: “A CH950 está entrando em sua quarta safra em operação. Hoje, ela está presente em diversas usinas e agrícolas do Centro-Sul, trazendo o futuro para mais perto de nós e levando o setor a um novo patamar produtivo”

Foto: Divulgação John Deere

Embora já altamente tecnológica, a CH950 continua recebendo atualizações visando entregar ainda mais resultados positivos para o setor bioenergético. Na Agrishow deste ano, a John Deere anunciou a chegada do “Cane Advisor”, pacote tecnológico anteriormente disponível apenas as colhedoras CH570 e CH670 e que permite monitorar em tempo real a produtividade da cana-de-açúcar, o total de toneladas colhidas, a porcentagem de resíduos e o consumo de combustível.

O “Cane Advisor” integra duas funcionalidades principais. O “Harvest Monitor” consiste em câmeras 3D que escaneiam a matéria-prima que passa pelo elevador da colhedora, diferenciando cana e palha, gerando mapas de produtividade georreferenciados. Já o sistema “SmartClean” é composto de um sensor de impacto, que mede perdas por estilhaço e, com base nesses dados, escolhe a melhor velocidade do extrator primário para entregar os níveis pré-estipulados de perdas e impurezas vegetais.

Com duas colhedoras de duas linhas em sua frota, Bioenergética Aroeira vê aumento de rentabilidade na colheita com redução de custos operacionais

“Era necessária a adoção de tecnologias que permitissem um aumento de rendimento da colheita mecanizada ao mesmo tempo em que reduzissem os custos de CT (Colheita e Transbordamento) e o consumo de óleo diesel”, explicou o gerente de operações agrícolas da Bioenergética Aroeira, Henrique Soares Naufel, quando questionado sobre os motivos que levaram a usina mineira a iniciar os testes com a CH950, a colhedora de duas linhas simultâneas e independentes da John Deere. 

O profissional conta que o projeto teve início em 2021. O objetivo era testar a máquina por quatro meses, período no qual seriam avaliados diversos KPIs (sigla em inglês para Key Performance Indicators), como consumo, produção, disponibilidade e custo de manutenção e de operação. “Aquele foi um ano bastante difícil em função de secas, geadas e queimadas. Mas, felizmente, conseguimos colocar a máquina em todas as condições de cana-de-açúcar que tínhamos, uma vez que a ideia era comparar seu desempenho com as colhedoras de uma linha.”

Diante da expectativa de aumento da moagem, Bioenergética Aroeira espera contar com quatro CH950 em sua frota já na próxima safra

Foto: Leonardo Ruiz

Os resultados dos testes foram tão positivos que, hoje, a companhia possui duas CH950 em sua frota. Na última safra, elas foram responsáveis por colher 660 mil toneladas de cana-de-açúcar, uma média de 330 mil toneladas por máquina. Diante desses números e da expectativa de expansão da moagem, Naufel revela que a Aroeira planeja adquirir duas novas máquinas para o próximo ano.

A média diária de colheita de cada CH950 na Bioenergética Aroeira é de 1500 toneladas. Num futuro próximo, a expectativa da companhia é elevar esse volume para 1.800 ton/dia/maq. Em comparação, as colhedoras tradicionais de uma linha colhem 860 ton/dia/maq. “Se as priorizarmos, esses números com certeza seriam maiores. Já houve casos de mais de três mil toneladas por máquina em um único dia. No entanto, não podemos ficar escolhendo áreas. Elas devem colher o que estiver disponível”, ressalta Naufel.

Henrique Soares Naufel: “Ficamos décadas desenvolvendo melhorias para as máquinas de uma linha. Agora, é hora de focar nossos esforços nas colhedoras de duas linhas”

Foto: Leonardo Ruiz

Além de maior rendimento operacional, a Bioenergética Aroeira tem observado uma série de outros benefícios. “Conseguimos uma boa diminuição nos custos de CT. Na safra passada, a média de consumo de óleo diesel das colhedoras de uma linha foi de 0,74 litros por tonelada, enquanto as CH950 entregaram médias de 0,60 L/ton. Uma redução de quase 20%.”

Por fim, o gerente de operações agrícolas da Bioenergética Aroeira afirma que a companhia vive, atualmente, uma curva de aprendizado, desenvolvendo novas tecnologias e formas de trabalho visando impulsionar ainda mais a performance das CH950. “Ficamos décadas desenvolvendo melhorias para as máquinas de uma linha. Agora, é hora de focar nossos esforços nas colhedoras de duas linhas, que com certeza farão parte da nova era produtiva do setor canavieiro nacional.”

Fonte: CanaOnline