Reduz espaço para agricultura em Ribeirão Preto
09-11-2015

 Raissa Scheffer

O espaço para o cultivo rural está menor e se transformou nos últimos anos em Ribeirão Preto e na microrregião, que compreende mais 15 municípios. Segundo o levantamento Produção Agrícola Municipal (PAM) 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os 346,2 mil hectares destinados à produção rural na região já não são os mesmos.

A primeira mudança é em relação ao tamanho da área em produção, que entre 2010 a 2014, foi reduzida em 9,6 mil hectares na região. Já no município de Ribeirão Preto, somente entre 2013 e 2014, houve uma perda de 6,1 mil hectares, 16% a menos.

De acordo com o engenheiro agrônomo Luís Fernando Zorzenon, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Ribeirão, órgão da Secretaria Estadual da Agricultura, a principal razão é a expansão urbana. “Com o crescimento das cidades, existe a interferência na agricultura e a produção começa a encontrar uma certa dificuldade. Também aumenta a demanda de empresas do ramo imobiliário por áreas grandes, mais afastadas, para a implantação de condomínios e loteamentos. É um ciclo natural”, conta.

Ainda segundo Zorzenon, isso gera um deslocamento da produção agrícola. “Quem tem uma área e recebe uma oferta de compra, acaba vendendo porque vê uma oportunidade de fazer um bom negócio e começar uma produção em outras regiões, mais distantes, que ainda não tenham essa interferência forte da expansão urbana.”

É o que o produtor de cana Roberto Costa Rossetti deve fazer. Por conta das dificuldades, principalmente as trazidas pela crise no setor sucroalcooleiro, a área de 500 hectares em Ribeirão está em negociação. “Com a venda, vamos conseguir investir na produção em outra área, que seja mais próxima de uma usina e onde os custos não pesem tanto.”

A cana ainda domina a produção agrícola na região, segundo o IBGE. Os canaviais ocupam 93% da área rural na microrregião e 95% em Ribeirão. Mas, esse cenário também está se transformando.

“Existem os ciclos. A mecanização e a crise do setor causaram uma readequação. Áreas remanescentes da cana, são divididas em propriedades menores e recebem outras culturas”, diz Zorzenon.

Crise do setor mudou os planos de Roberto

Para o produtor de cana Roberto Costa Rosseti, a crise do setor sucroalcooleiro foi a principal causa para a mudança de planos.

“É o que mais interfere. Os preços em baixa não remuneravam bem e os custos continuaram a subir. Com o fechamento de usinas em Ribeirão e em cidades próximas, a logística para entregar a cana também ficou mais complicada”, conta ele, que hoje terceiriza a colheita para a usina.

A área, que fica em Ribeirão Preto, está em negociação com uma empresa, e o investimento deverá ser feito em outra região. Mauro Andreazze, gerente de pesquisas agrícolas do IBGE, existe a tendência de migração da produção de cana para áreas mais baratas e onde os custos ficam menores. “O principal ponto de deslocamento é para o Centro Oeste do País.”

Análise
Setor precisa de políticas públicas

“Nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro vem atravessando uma crise com incertezas em relação ao preço dos combustíveis fósseis e da falta de política pública, tanto para os biocombustíveis quanto para a exportação da energia a partir da biomassa, contribuindo para a expansão do endividamento do segmento. É necessário que sejam adotadas políticas públicas de longo prazo, como melhorias no sistema de transporte, bem como avanços no sistema tributário, e que valorizem uma matriz energética, reconhecendo as contribuições ambientais do etanol e da eletricidade.”

Instituto de Economia Agrícola
Diagnóstico do Setor Sucroenergético 2014