RenovaBio remunera biocombustível e reduz “montanha” de CO2
09-06-2020

Setor sucroenergético poderá comercializar nova “moeda” na Bolsa de Valores e vender CBios para distribuidoras e empresas que queiram lançar produtos de acordo com o “Carbon Free”   

Renato Anselmi

A possibilidade de financeirizar o etanol e outros biocombustíveis, criando condições para a venda de CBios – Créditos de Descarbonização na Bolsa de Valores, o estímulo ao uso de soluções tecnológicas inovadoras – incluindo agroquímicos – são alguns atributos que colocam o RenovaBio – programa governamental de estímulo aos biocombustíveis  – na vanguarda mundial entre os programas voltados à sustentabilidade ambiental do agronegócio.

Por esses e outros motivos, o RenovaBio tem sido avaliado como uma iniciativa inteligente e extremamente avançada. “O RenovaBio é absolutamente incrível. O grande destaque do programa é financeirizar o biocombustível”, enfatiza o engenheiro agrônomo e geneticista Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ele, a economia passou por várias etapas. “Até pouco tempo atrás, a indústria predominava. Atualmente, as atividades sólidas são praticamente atividades de mineração de ativos financeiros”, observa.

O programa criou uma moeda, o CBio, que é equivalente a uma tonelada de CO2 não emitido. “O distribuidor de combustível vai comprar obrigatoriamente o CBio para cumprir a sua meta. E para a comercialização dessa moeda será usada a Bolsa de Valores.”, detalha.

A negociação do Crédito de Descarbonização poderá estar também atrelada à especulação. “O valor vai depender muito da nossa credibilidade como país. Que possamos provar que não estamos queimando a Amazônia”, exemplifica. Com incêndio na Austrália e a cada mudança climática – detalha –, o CBio poderá aumentar. “Está sendo criado um sensor que percebe uma série de coisas em relação ao meio ambiente”, explica.

Gonçalo Pereira diz que as empresas que hoje dominam o mundo, como o Facebook, não têm “nada” fisicamente. “É tudo financeiro. Uma empresa, como a Petrobras, possui um ativo físico gigantesco. Se olhar o valor dela na Bolsa e comparar com o de uma empresa de tecnologia, que não tem nada, mas possui um valor mais elevado, há uma grande diferença” – comenta.

“Se o Crédito de Descarbonização ganhar realmente corpo, o produtor de etanol vai ser um ‘mineirador’ de CBio”, ressalta. Na avaliação dele, esse programa irá muito além do Brasil e dos canaviais. “Tudo é energia. O RenovaBio coloca as bases de toda a operação agrícola sob a forma de energia, no caso megajoule. Agricultura é uma forma de adensar energia”, diz Gonçalo Pereira

Uma montanha de CO2, que estava armazenada sob a forma de carbono e petróleo, foi colocada na atmosfera – observa. “A gente nunca viveu, enquanto ser humano, com essa quantidade de CO2 na atmosfera. A nossa civilização nunca conviveu com isso. É uma situação nova. Vão acontecer mudanças enormes, inclusive climáticas. Isso é óbvio. A nossa atmosfera é bastante sensível”, comenta.

O professor da Unicamp afirma que é preciso reduzir, com tecnologia, essa quantidade de CO2. “E, para isto, a melhor forma, é converter o CO2 em uma moeda”, salienta. O RenovaBio oferece condições para que ocorra essa transformação.

“O nosso setor foi financeirizado. Essa é a grande beleza do RenovaBio. O programa é extremamente avançado”, enfatiza Gonçalo Pereira.

Fonte: CanaOnline