Ribeirão Preto, a capital da maior região canavieira do mundo, não tem usina
23-07-2018

Usina Santa Lydia e Galo Bravo – de exemplos de tecnologia de ponta à falência

O Brasil é o maior produtor de cana do mundo, com produção superior a 600 milhões de toneladas de cana por safra. Praticamente 60% dessa cana é produzida no interior paulista, a maior parte na região nordeste do Estado, que Ribeirão Preto como maior cidade. Por isso, quando se fala em cana-de-açúcar, logo se associa a Ribeirão Preto.

No entanto, a capital do nordeste paulista não tem usinas, mas já teve. A primeira delas foi a Usina Santa Lydia, que surgiu em 1946, fundada por Arnaldo Ribeiro Pinto. Mas começou-se a produzir álcool ainda em 1939, para mistura do produto à gasolina durante a 2ª Guerra Mundial. Era uma produção pequena, moía 200 mil toneladas de cana por ano.

Depois chegou a ser uma empresa de médio porte, moendo 1,5 milhão de toneladas de cana por ano, empregando cerca de 3 mil funcionários. Tinha tecnologia de ponta em produção e chegou a ser a única exportadora brasileira de álcool fino (para indústria farmacêutica, química e de bebidas).

Foram também os canaviais da Santa Lydia os primeiros campos de teste de colhedoras de cana, isso na década de 1950. Seus proprietários eram tão adeptos a tecnologia, que montaram, em 1960, aSantal, fabricante de implementos para o setor sucroenergético, entre eles, colhedoras de cana.

A Santa Lydia era estável, mas, ao ter o contrato de um fornecedor de cana rompido dois anos antes do vencimento, a empresa se endividou em 1994 com compras de terras, cana e equipamentos, pedindo concordata. A venda foi para um empresário local, que não pagou a maior parte do acordo e repassou a usina ao grupo ligado ao antigo fornecedor de cana, a Nova União. A partir daí, foi ladeira a baixo. A planta industrial foi praticamente desativada e, com dívidas trabalhistas, foi a leilão.Dos 150 alqueires da área, 100 deles estão destinados ao plantio de cana, com venda para usinas da região. Nos últimos dias, as ruinas da antiga Santa Lydia foi invadido pelo movimento Sem Terra.

A ÚLTIMA A FECHAR FOI A USINA GALO BRAVO
Em 1977, foi inaugurada quase que no coração de Ribeirão Preto, a Destilaria Galo Bravo, fundada pela família Balbo. A unidade não era de grande porte, mas se destacava pela perfeição de seu parque industrial e adoção de tecnologias de ponta. Tanto que, em 1985 tornou-se a primeira usina a substituir a moenda pelo difusor na operação de extração da cana.

O equipamento, com capacidade para processar 4.000 t de cana por dia, foi produzido pela Zanini em associação com a empresa Sermatec, ambas de Sertãozinho. O difusor era considerado uma grande inovação, com ele, a Galo Bravo podia retirar até 98% de sacarose da cana, enquanto o sistema convencional de extração por moendas, a média no Brasil na época era de 89%, sendo que o índice de 95% atingido apenas pelas unidades bem administradas.

O difusor apresentava ainda outros benefícios: consumia cinco vezes menos energia sendo que a despesa de manutenção diminui em cerca de 60% a 65% se comparada com os métodos usuais. Na lubrificação, outra vantagem ponderável: cada tonelada de cana passada pela moenda exige o gasto de três gramas e apenas 0,7 grama, no difusor.

A novidade chamou a atenção do setor, e a Galo Bravo passou a ser vitrine da nova tecnologia. Ademar Balbo, gestor da unidade, abriu as portas para os interessados em conferir o desempenho do difusor. Profissionais de várias partes do Brasil e até de outros países seguiram em romaria à Galo Bravo. Contam que, Balbo recebia os visitantes e mostrava, orgulhoso, sua “pequena joia”, como se referia a Galo Bravo, destacando o difusor, e também os jardins da destilaria, outra paixão do empresário.

Mas a grande proximidade com a zona urbana de Ribeirão Preto, a pouca área de canavial - que fazia com que tivesse de competir por cana com várias outras usinas da região - e a desregulamentação do setor ocorrida na década de 1990, mataram aos poucos a Galo Bravo. Que entrou nos anos 2000 altamente endividada. Em 2004, passou praticamente para mãos de produtores de cana, credores da empresa e mudou de nome para Central Energética Ribeirão Preto (CERP).

Mesmo assim, a Galo Bravo não seguiu em frente e em 2009, afundada em dívidas de R$ 450 milhões - R$ 200 milhões com bancos -, mais que o dobro dos ativos estimados em R$ 220 milhões, caiu nas mãos do aventureiro Ricardo Mansul, conhecido por falir o Mappin, a Mesbla e do Banco Crefisul, dez anos antes de assumir a Galo Bravo.

Mansur teve o comando da Galo Bravo por meio de uma espécie de arrendamento. Fez um acordo pelo qual deveria investir, administrar e recuperar a empresa, dividindo o produto do trabalho com os antigos donos. Em vez disso, de acordo com a contabilidade encontrada nos computadores, dilapidou o caixa da destilaria. A passagem de Mansur pela Galo Bravo durou 11 meses. Na época, o empresário também assumiu a Destilaria Pignata, em Sertãozinho.

A Galo Bravo encerrou as atividades em 2011, de lá para cá rola uma cansativa briga judicial, entre credores, proprietários e até sem terras que exigem a desapropriação da área (a unidade chegou a ser invadida). Em 2017, teve a falência decretada pela Justiça de Ribeirão devido a um título de R$ 33.839,90 protestado por um dos credores, uma empresa de inspeções técnicas de Sertãozinho que atua na área de soldagem.

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