Rotulado erroneamente como “vilão nutricional”, açúcar pode perder espaço nas prateleiras
20-06-2022

Tema foi debatido durante a live “O açúcar e a mulher do campo, indústria, forno e fogão”

Leonardo Ruiz

Nos últimos anos, tem sido perceptível um movimento mundial rumo a redução do consumo de açúcar. Risco de obesidade e doenças crônicas, como a diabetes, estão entre os principais catalisadores dessa pauta, defendida por  órgãos de saúde ao redor do globo. Atualmente, o Brasil é a quarta nação que mais consome o ingrediente, ficando atrás apenas da Índia, União Europeia e China. Estima-se que a população brasileira consuma, em média, 80 gramas de açúcar ao dia. Tomando por base uma dieta de 2 mil calorias diárias, a recomendação estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 25 a 50 gramas por dia.

Diante desse cenário, o Ministério da Saúde tem firmado diversos compromissos com as indústrias alimentícias visando a redução de açúcares em seus produtos. Um dos objetivos é retirar do mercado 144 mil toneladas do ingrediente até o final deste ano. Porém, será que o açúcar é realmente o “vilão” dessa história? Ou seria o consumo excessivo por um número limitado de pessoas o grande problema?

Em 08 de junho, a CanaOnline realizou a live “O açúcar e a mulher do campo, indústria, forno e fogão”, na qual reuniu diversas especialistas da área para debater o tema. Na visão da Gerente Corporativa de Qualidade Industrial da Usina Coruripe, Lourdes Cruz, o açúcar não é o vilão. Para ela, vilão pode ser qualquer coisa que fazemos em excesso. “Até mesmo a prática de exercícios físicos, em grandes quantidades, pode ser um problema. Temos que saber apenas dosar corretamente o ingrediente na nossa alimentação.”

Pensamento semelhante foi exposto pela Gerente Comercial Açúcar e Etanol da Uisa, Tatiana Lima. “O açúcar possui um aspecto cultural muito forte. Ele tem relação com afetividade, família, união e confraternização. Ele sempre esteve presente na mesa do brasileiro, seja naquele doce caseiro ou no bolo de aniversário. O que precisamos é de conscientização e moderação. Lembrando que a diferença entre o veneno e o remédio é a dose.”

Novos produtos atendem anseios da população e reduzem risco de perda de mercado

Essa mudança de demanda por parte dos consumidores está obrigando as usinas a diversificarem a produção de tipos de açúcar visando atender a esses anseios e reduzir os ricos com uma possível perda de mercado. É o caso, por exemplo, da Uisa, que começou a produzir açúcar demerara no final de 2020. O produto, que passa por um processo de refinamento mais leve e sem aditivos químicos, pode substituir o cristal nas mais diversas formas sem que ocorra alteração de sabor. “Esse novo tipo foi muito bem aceito pelos nossos consumidores. Inclusive, seu consumo tem crescido bastante nos últimos dois anos.”

Porém, é importante ressaltar que independentemente do tipo comercializado (branco, cristal, refinado, demerara, mascavo e orgânico), a produção de açúcar pelas usinas brasileiras segue rigorosos padrões de qualidade, sendo totalmente certificada do campo até a entrega do produto final.

“Os critérios e certificações exigidas para a produção de açúcar no Brasil atestam que todo o produto que sai das usinas pode ser consumido pela população sem riscos à saúde. Desde que sem excessos, obviamente”, ressaltou a Gerente de Produção Industrial da Unidade Costa Pinto, da Raízen, Sibeli Rangel.

E como fica o açúcar orgânico? Segundo a Gerente de Planejamento e Desenvolvimento Agrícola da Cofco International, Patrícia Fontoura, a única diferença de um açúcar tradicional para o orgânico é a forma como ele é produzido no campo.

“A cana-de-açúcar que será matéria-prima para a produção de um açúcar orgânico não recebe nenhum tipo de químico. O que não ocorre com os canaviais tradicionais, que são tratados com herbicidas, inseticidas e outros defensivos. A questão é que, durante sua produção na indústria, tanto o açúcar tradicional quanto o orgânico passam por um processo de cozimento em altas temperaturas, eliminando por completo qualquer resíduo de produto que possa estar no açúcar convencional. Diferente, por exemplo, das leguminosas e hortaliças, que saem do campo quase que diretamente para a nossa mesa. Essas sim possuem benefícios em serem consumidas em sua forma orgânica.”

Por conta desse processo industrial, Patrícia salienta que o açúcar tradicional que sai da indústria é tão saudável quanto o orgânico. “É claro que produzir açúcar orgânico é extremamente válido, inclusive pela questão dos impactos ambientais. Mas olhando unicamente para a qualidade final, não existe diferença, uma vez que o processo de fabricação e a legislação são tão rigorosos que, na comparação, os produtos que vão para as prateleiras são praticamente os mesmos.”

Fonte: CanaOnline

Assista a live completar: