'Roupa de milho' é aposta de marca esportiva para produção de peças sustentáveis
04-06-2025

Roupa com tecido feito de milho ganha espaço no portfólio da Speedo — Foto: Speedo/Divulgação
Roupa com tecido feito de milho ganha espaço no portfólio da Speedo — Foto: Speedo/Divulgação

Companhia relata custo maior, porém ganho operacional durante produção das peças

Por Marcos Fantin — São Paulo

Uma grande marca da indústria têxtil e esportiva achou na agricultura uma solução para reduzir emissão de gases de efeito estufa: "roupas de milho". O segredo é a "bioamida", um tecido feito a partir do milho geneticamente modificado. O material é produzido a partir de uma biomassa vegetal adaptada para uso industrial, sem competir com o milho destinado à alimentação.

Segundo a Speedo Multisport, companhia idealizadora, o custo do material é superior ao das poliamidas convencionais, mas ganha competitividade com benefícios operacionais. “As peças produzidas com esse tecido exigem menos tempo e temperaturas mais baixas para o tingimento, absorvem melhor o corante e otimizam a reutilização da água nas fábricas”, afirma Roberto Jalonetsky, CEO da Speedo Multisport. Segundo ele, esses fatores contribuem para uma redução de até 50% na pegada de carbono.

A produção da Speedo está em andamento. Jalonetsky não detalhou se há impacto financeiro no preço final para o consumidor, mas ressalta que a eficiência no processo de trabalho com a bioamida tende a equilibrar os custos da empresa e manter preços competitivos.

Christiane Paiva, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, supõe que a biomassa vegetal utilizada é basicamente a massa vegetal do milho, como o caule e as folhas secas. “Eles têm produção maior de lignina e celulose, que são substâncias que dão resistência ao milho na hora de produzir os fios e linhas para fazer a malha”.

O milho produzido na Embrapa tem sua genética destinada para produzir mais grãos, e não para produzir mais biomassa que é a parte seca da planta, e por isso, não compete com o milho destinado à alimentação animal e exportação. “É possível ter um milho modificado para diversas finalidades. Você pode direcionar a genética da planta para aquilo que o mercado está pedindo, como, por exemplo, atualmente utiliza-se muito o milho para a produção de etanol”, explica Paiva.

Roberto Trindade, também pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, corrobora com a tese e acredita que sejam genótipos com um tipo de fibra que possibilite maior rendimento industrial. “Neste caso, se o germoplasma é utilizado especificamente para produção de fibra, não compete e nem será usado para alimentação”.

Segundo Cristina Paes, analista da Embrapa Milho e Sorgo nas áreas de Ciência de Alimentos e Nutrição Humana, as principais fontes para fibras têxteis a partir do milho são a palha e o amido. “Especialmente o ácido polilático, resultante da fermentação do amido hidrolisado, gera fibras muito especiais de elevado valor agregado”. Segundo ela, essas modificações químicas e físicas estão sendo exploradas cada vez mais pelas indústrias, inclusive utilizando nanotecnologia.

O processo resulta em derivados usados por outras indústrias também em descartáveis, lenços umedecidos, gazes, tapetes, cobertores, e também tecidos para roupas esportivas.

Fonte: Globo Rural