Safra 2025/26: Açúcar em alta global e etanol em xeque desafiam o agro brasileiro
07-07-2025

Visão Agro Itaú BBA aponta superávit mundial de açúcar, queda na oferta de etanol e pressão sobre preços e decisões estratégicas de usinas e fornecedores

O relatório “Visão Agro 2025/26”, divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, na última sexta-feira (4), apresenta projeções relevantes para o setor sucroenergético nacional. A análise aponta que, após uma temporada 2024/25 marcada por perdas expressivas nos países asiáticos, a safra global 2025/26 deve registrar um crescimento de 4,6% na produção mundial de açúcar, totalizando 192,8 milhões de toneladas (MM t) de açúcar bruto equivalente. Esse movimento é puxado pela recuperação agrícola na Índia, Tailândia e Paquistão, com aumento da área plantada, melhores volumes de chuva e controle de doenças nas lavouras.

No Brasil, as expectativas são mais cautelosas. A produção de cana-de-açúcar no Centro-Sul deve cair para 590 MM t, diante de uma produtividade decepcionante no início da safra, especialmente nas regiões paulistas de Ribeirão Preto e Catanduva. Ainda assim, a produção de açúcar poderá crescer 1,6%, atingindo 40,8 MM t, com um mix açucareiro estimado em 52%. No Norte-Nordeste, a moagem deve subir 3% e a produção de açúcar crescer 1,8%, alcançando 3,81 MM t.

Oferta global supera demanda e pressiona preços do açúcar

Com a demanda global estimada em 190,1 MM t, a oferta excedente de 2,7 MM t deve manter a tendência de preços pressionados nos próximos meses. Esse cenário coloca em xeque a continuidade do atual ciclo de valorização do adoçante. Contudo, como grande parte do açúcar brasileiro já foi fixado antecipadamente a preços superiores aos atuais (em torno de USD¢19/lb), a estratégia de maximização do açúcar pelas usinas ainda se sustenta para 2025/26.

Entretanto, o futuro da safra 2026/27 pode ser desafiador caso os preços internacionais permaneçam nos níveis atuais (USD¢17/lb), reduzindo o prêmio do açúcar sobre o etanol e impactando o mix de produção nas usinas.

Etanol: demanda aquecida, mas oferta em queda

Mesmo com forte crescimento na produção de etanol de milho, impulsionado por novos investimentos e inaugurações de usinas — que levarão o volume total para 10 MM m³ em 2025/26 — a oferta total de etanol no Brasil deverá cair 7%, devido à retração de 14% na produção a partir da cana-de-açúcar, estimada em 23,1 MM m³.

O consumo também sofrerá queda, especialmente no etanol hidratado, que deve cair 18% na safra, impactado por perda de competitividade frente à gasolina. A paridade no estado de São Paulo, atualmente em 65%, pode subir para 70%, reduzindo o market share do etanol na bomba.

Por outro lado, a demanda por etanol anidro deve crescer com o aumento da mistura na gasolina de 27% para 30%, a partir de 19 de agosto de 2025 — avanço vinculado à Lei do “Combustível do Futuro”.

Cenário regulatório: CBios ganham protagonismo em 2026

O mercado de créditos de descarbonização (CBios) passa por mudanças importantes. A sanção do PL 3.149/20 reforçou a estrutura do programa RenovaBio, com punições mais severas para distribuidoras inadimplentes e redistribuição obrigatória de receitas com CBios para produtores de cana. A multa máxima subiu para R$ 500 milhões e o descumprimento das metas passa a configurar crime ambiental. A expectativa é que, com a nova legislação operacional até 2026, o mercado se torne mais robusto e previsível.

Usinas devem manter foco no açúcar, mas margens serão menores

Apesar da queda recente nas cotações do açúcar e do câmbio, a maior parte da produção já foi fixada em patamares remuneradores. Os custos, no entanto, tendem a subir, com preocupação sobre os preços dos fertilizantes. As margens operacionais ainda serão positivas, mas menores que nos ciclos anteriores.

Além disso, a estratégia de armazenagem ganha importância: com a curva de preços futura em carrego, usinas com capacidade de estocagem podem aproveitar oportunidades de hedge no início de 2026.

Fornecedores de cana terão leve alta no ATR

Os preços do ATR (Açúcar Total Recuperável), base de remuneração aos fornecedores de cana em São Paulo, devem seguir estáveis. A projeção do Itaú BBA para a safra 2025/26 é de R$ 1,21/kg de ATR, levemente superior à safra anterior (R$ 1,1926). A convergência entre preços do etanol e do açúcar deve reduzir distorções regionais e aliviar tensões entre produtores e usinas, observadas nos anos anteriores em regiões mais alcooleiras.