São Martinho vê perspectiva melhor para etanol de milho em 2024/25
14-02-2024

Custo de aquisição do milho deve cair — Foto: José Florentino / Globo Rural
Custo de aquisição do milho deve cair — Foto: José Florentino / Globo Rural

Unidade, que começou a operar em junho, ainda não deu lucro operacional para a companhia

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

Após iniciar as operações de sua planta de etanol de milho em condições de mercado apertadas, com custo elevado do cereal e preços baixos do biocombustível, a São Martinho espera um cenário melhor para a próxima safra. A usina já vai estar operando em sua capacidade total e com custo de produção menor, indicou Felipe Vicchiato, diretor financeiro da companhia, em teleconferência de resultados.

Nesta safra, a unidade operou com um milho comprado por um valor médio de R$ 74,70 a saca. Para a próxima safra, ele espera que o custo do cereal fique entre R$ 50 a R$ 55 a saca - até o momento, a companhia já comprou metade da capacidade de processamento anual, de 500 mil toneladas de milho a R$ 64,40 a saca. Segundo Vicchiato, a expectativa é de oferta abundante na região da usina, anexa à Usina Boa Vista, em Goiás.

A planta começou a operar em junho e atingiu sua capacidade máxima no último trimestre, mas ainda opera com prejuízo. No nove primeiros meses desta safra, o lucro antes de juros e impostos (Ebit) da unidade foi negativo em R$ 29,2 milhões.

A companhia também espera uma recuperação da qualidade do DDGS, após uma redução nesta temporada. “A produtividade vai estar melhor e com ótima qualidade”, disse. Com a dificuldade nesta safra, o preço médio de venda do DDGS até o 3º trimestre ficou em R$ 1.003,70 a tonelada.

Se houver a esperada normalização da qualidade do produto, a São Martinho deve conseguir vender seu DDGS a preços de mercado. A questão é quanto ficarão os preços do DDGS, já que o produto compete com o farelo de soja, que a princípio tende a ficar pressionado por causa dos baixos preços da soja.

Vicchiato disse que a companhia não estuda uma nova planta de etanol de milho e que um novo investimento só faz sentido com um custo menor e um preço de etanol “bem maior”. Ainda assim, ele ressaltou que o custo de produção do combustível feito a partir do milho é bem inferior ao derivado da cana. “É mais competitivo. Fato”.

Dada a perspectiva de aumentar a produção de etanol de milho, a São Martinho estuda até ampliar a capacidade de produção de açúcar na Usina Boa Vista, para direcionar uma parcela maior da cana para a produção do adoçante. Isso reduziria a produção de etanol feito de cana, mas não afetaria a produção do biocombustível, já que o cereal cobriria a diferença. “A empresa ficaria com menor exposição ao etanol de cana e colocaria só milho para produção de etanol”, observou.

Regularização da oferta

O cenário para oferta de etanol na próxima safra também deve ajudar as vendas do biocombustível feito de milho. Para Vicchiato, o oferta de etanol deve se regularizar no país, após uma sobreoferta nesta temporada, e a correlação com o preço da gasolina deve voltar para a paridade de 70%. A estabilização da oferta deve se dar com uma redução da produção do combustível de cana e aumento da produção a partir do milho, disse.

Quanto à cana, a expectativa é de diminuição da produção de etanol por causa do clima desfavorável a algumas lavouras neste verão, sobretudo no oeste de São Paulo, que deve afetar a produtividade da próxima safra, avaliou. As condições climáticas foram desfavoráveis em dezembro e janeiro, o que faz a São Martinho esperar uma moagem de cana no Centro-Sul "estável" na próxima safra.

Se não fosse isso, o mercado poderia voltar a ter uma sobreoferta de etanol por mais um ou dois anos, dados os novos projetos de etanol de milho anunciados para o período, segundo Vicchiato. Os investimentos anunciados recentemente para novas plantas de etanol de milho preveem um acréscimo de 2,5 bilhões a 3 bilhões de litros, calcula.

Fonte: Globo Rural