Setor de cachaças artesanais aposta em selo para garantir origem e autenticidade
20-10-2025

Após casos de contaminação por metanol, modelo atual será reformulado para reforçar segurança e recuperar a confiança dos consumidores
Por Paloma Santos | Brasília
As cachaças de alambique produzidas no Brasil terão, a partir de 2026, um selo de origem e autenticidade com rastreabilidade, desenvolvido pela Associação Nacional da Cachaça de Alambique (Anpaq). A medida pretende reforçar o controle de qualidade do produto em meio aos recentes casos de contaminação por metanol em bebidas comercializadas no País. A adesão dos produtores será voluntária.
Segundo o presidente da Anpaq, Sérgio Maciel, o novo selo é uma atualização do atual Programa de Garantia de Qualidade, criado para atestar padrões técnicos e sensoriais da bebida. “A Anpaq já possui um selo que funciona há anos, mas vimos a necessidade de reformular o regulamento para deixar mais claro o que diferencia a cachaça de alambique [artesanal] da cachaça de coluna [industrializada]”, afirmou.
A nova versão deve incluir recursos de rastreabilidade, como um QR Code impresso no rótulo, que permitirá ao consumidor verificar a procedência do produto. A ideia é aumentar a segurança das bebidas que utilizam o selo, por meio de sistema integrado. “Já temos procedimentos em experimentação pelo sistema Cachaça Gestor, que presta consultoria a mais de 300 produtores no País”, disse Maciel.
O regulamento em vigor exige que o produtor seja associado à Anpaq e cumpra requisitos de qualidade físico-química e sensorial, analisados pela Comissão de Avaliação de Qualidade (CAQ). A reestruturação também deve incluir critérios de sustentabilidade e segurança, além de ajustes para facilitar o acesso de pequenos produtores sem comprometer o controle das cachaças.
O projeto, que vinha sendo discutido desde o início do ano, foi acelerado a pedido do Ministério da Agricultura (Mapa) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Diante da crise com o metanol, o Mapa pediu que adiantássemos o processo. Já iniciamos as discussões e esperamos colocar o selo em funcionamento no início de 2026”, afirmou o presidente da Anpaq.
Segundo o Ministério da Saúde, até o momento, 213 notificações de intoxicação por metanol foram registradas no País, com 32 casos confirmados e cinco mortes em São Paulo.
Maciel destacou que o episódio impactou o consumo de destilados em todo o País. Apesar disso, o dirigente ressaltou que a cachaça de alambique tem menor risco de falsificação, por ser um produto de valor agregado mais alto e com venda direta ao consumidor. “A cachaça artesanal tem uma cadeia curta, o que reduz a possibilidade de adulteração. Além disso, quem falsifica busca produtos de grande volume e baixo custo”, enfatizou.
Para Maciel, o novo selo ajudará a reconstruir a confiança do consumidor e valorizar a cachaça como símbolo da produção artesanal brasileira. A associação, em parceria com o Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a CNA, planeja uma campanha nacional para divulgar o selo e reforçar o reconhecimento da cachaça de alambique como patrimônio histórico e cultural do País.
Fonte: Estadão