Setor de cana começa a sair da crise em 2015 com retomada de preços de etanol e açúcar
06-01-2016

Mais de 80 usinas encerraram atividades no país nos últimos anos, mas a cadeia sucroenergética deve voltar a crescer em 2016.

O setor sucroenergético brasileiro começou a viver uma mudança de cenário em 2015, após enfrentar uma das piores crises da história. Em anos recentes, mais de 80 usinas encerraram atividades no país. No ano recém terminado, os preços do etanol e do açúcar tiveram recuperação e movimentaram a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, que deve voltar a crescer em 2016.

Logo início do ano, as lavouras sinalizavam que 2015 seria diferente, pois as chuvas ajudaram o desenvolvimento dos canaviais. A área de cana do produtor Ademir Ferreira de Melo Júnior não foi beneficiada por chuvas em janeiro, mas, a partir de fevereiro, recebeu muita umidade. Melo Júnior investiu pesado para recuperar o prejuízo das últimas safras, e, neste ano, estimou uma produtividade superior a 100 toneladas por hectare.

Etanol

Assim como o aumento de produtividade, o preço dos combustíveis também animou o setor. Em Minas Gerais, a redução da alíquota sobre o etanol hidratado, de 19% para 14%, e o reajuste no preço da gasolina estimularam o consumo no mercado interno.

Com a mudança, o estado deve computar quase 2 bilhões de litros consumidos em 2015, o triplo do que foi inicialmente projetado. A expectativa foi superada principalmente pelo processamento da primeira parte da safra, obtida entre abril e agosto, de acordo com o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.

“O produtor foi obrigado a vender o produto por um valor muito baixo e isso refletiu em uma relação muito próxima de 60% na bomba. O consumidor, dentro do contexto econômico no país, optou pelo combustível mais barato” , diz o representante das usinas mineiras.

Açúcar

A elevação das cotações de açúcar foi a boa notícia do segundo semestre do ano para o setor de cana. Em dezembro, a saca de 50 kg do produto foi comercializada a R$ 80,19, maior valor registrado desde 2012.

De acordo com o diretor da Archer Consulting Arnaldo Corrêa, durante muito tempo o mercado internacional de açúcar demonstrou uma correlação muito estreita com a flutuação do dólar. Toda vez que a moeda americana se valorizava em relação ao real, o preço do açúcar lá fora em dólar caía.

“Isso foi abandonado a partir de setembro, com a entrada dos fundos comprando agressivamente no mercado de açúcar lá fora e isso elevou os patamares. Para o exportador, a usina, o preço foi de R$ 1.000 para R$ 1.300 por tonelada”, afirma Corrêa.

Dívida

Mesmo com a retomada dos preços do açúcar e do etanol, o setor ainda enfrentou dificuldades. Algumas usinas a fecharam as portas, como reflexo da má administração e de prejuízos acumulados em anos anteriores.

O diretor da Archer Consulting calcula que o setor sucroalcooleiro deva hoje cerca de R$ 90 bilhões, que é aproximadamente o mesmo valor faturado anualmente, se contabilizada também a energia.

“Imagine você ter uma dívida que é o tamanho do seu faturamento em um ano. Isso porque está melhorando, porque, se a gente pegar de uns tempos atrás, iria falar de uma dívida em torno de 120% a 130% da receita”.

ATR

No último trimestre do ano, as chuvas prejudicaram a colheita da cana em diversas regiões do país. No interior paulista, usinas interromperam atividades por três semanas. O atraso reduziu a quantidade de açúcar total recuperável da cana (ATR), e comprometeu a rentabilidade dos produtores.

Os meses em que o índice de ATR atinge o pico vão de junho a agosto, afirma o engenheiro agrônomo Pedro Carvalho Wiezel. “Se a chuvas se antecipa, como ocorreu esse ano, acaba prejudicando tanto a colheita como a maturação da cana que estava no pico de ATR e volta a vegetar, perdendo assim um pouco de qualidade do produto na indústria” , explica.

O Brasil deve encerrar 2015 com uma moagem superior a 600 milhões de tonelada, aumento de 3,8% em relação à safra passada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mais da metade do volume total processado deve ser destinado à fabricação de etanol. O restante foi utilizado na produção de açúcar, devendo somar 34,06 milhões de toneladas, uma redução de 2,7% sobre 2014.

Perspectivas

O fator positivo de 2015, segundo o secretário de Política Agrícola Ministério Agricultura, André Nassar, é que houve recuperação de produtividade no Centro-Sul. “É muito relevante, porque a produtividade está baixa há alguns anos e isso afeta a rentabilidade. Acho que as perspectivas de mercado são boas”, disse.

O ano foi de recuperação para a usina Alta Mogiana. A empresa encerrou a safra com 5,3 milhões de cana processadas, 3% a mais do que a estimativa inicial. O diretor comercial da usina, Luiz Gustavo Junqueira, se o câmbio não apresentar grandes mudanças, é possível acreditar no início do declínio do endividamento das usinas, o que traria novos investimentos para o setor no futuro.

Para 2016, a expectativa do setor é positiva. As empresas de consultoria esperam um déficit de 5 milhões de toneladas de açúcar, o que deve elevar as cotações do produto. Já o etanol deve manter os preços atualmente praticados no mercado interno.

Segundo a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, o compromisso que o Brasil levou para a conferência do clima em Paris (COP­21), de reduzir emissões entre 2020 e 2030, coloca uma grande responsabilidade no setor de energias renováveis, tanto em relação à produção de biocombustíveis quanto à geração de energia elétrica. 

http://www.canalrural.com.br/noticias/reportagem-especial/setor-cana-comeca-sair-crise-2015-com-retomada-precos-etanol-acucar-60315