Setor precisa ser proativo, se preparar para as safras mais secas
22-11-2023

Seca de 2021 provocou corrida por orçamentos de irrigação. No entanto, chuvas deste ano afastaram tecnologia da mente dos produtores e usinas. Divulgação Netafim
Seca de 2021 provocou corrida por orçamentos de irrigação. No entanto, chuvas deste ano afastaram tecnologia da mente dos produtores e usinas. Divulgação Netafim

Planejamento prévio permitirá que a cultura aproveite os benefícios da tecnologia de irrigação por gotejo logo nos primeiros dias após a instalação

Por Leonardo Ruiz

O ano era 2021, e os canaviais do Centro-Sul do país enfrentavam uma das piores secas do último século. A falta de chuvas, especialmente a partir de março, dizimou grande parte de áreas produtivas, levando à quebra expressiva de produtividade agrícola. Em São Paulo, responsável por metade da produção nacional, a queda foi de 10,2% na comparação com o ciclo 2020/21. No Mato Grosso do Sul, quarto no ranking de produção, as perdas foram ainda maiores: 11,4%.

Apenas alguns poucos produtores e unidades bioenergéticas conseguiram escapar das adversidades climáticas daquele ano. Justamente aqueles que haviam investido em sistemas de irrigação tecnificada. Esse grupo conseguiu, com o auxílio da ferramenta, manter suas produções estáveis, até mesmo com incrementos em alguns casos.

Daniel Pedroso: “A grande maioria dos profissionais só procura a irrigação quando a cana-de-açúcar está sofrendo com o déficit hídrico”

Divulgação Netafim

Abalados pelos acontecimentos de 2021, os profissionais do setor se tornaram mais receptíveis à tecnologia de irrigação, e o número de orçamentos sofreu uma guinada nunca vista. No entanto, as boas chuvas de 2023 parecem ter apagado da mente de muitos os danos causados pela seca, uma vez que a quantidade de novos projetos vem reduzindo consideravelmente.

Na opinião de Daniel Pedroso, especialista agronômico da Netafim, pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, fatos como esse mostram como o setor age de forma reativa, e não preventiva. “A grande maioria dos profissionais só procura a irrigação quando a cana-de-açúcar está sofrendo com o déficit hídrico. Ao que parece, eles esperam o problema para correr atrás da solução.”

Especialistas afirmam que o correto é iniciar um projeto de irrigação em safras climaticamente favoráveis, se preparando para os ciclos mais secos

Divulgação Netafim

Segundo ele, o correto é iniciar um projeto de irrigação em safras climaticamente favoráveis, como a atual. Dessa forma, os canaviais já estarão preparados para os ciclos mais secos, que inevitavelmente virão. “Um projeto de irrigação por gotejamento leva um tempo para ser concluído. Existe toda a parte de negociação, assinatura de contrato, obtenção de crédito, fabricação e envio dos equipamentos para a propriedade, instalação e treinamento. Dessa forma, se o produtor espera a cana-de-açúcar sofrer para investir, ele amargará grandes prejuízos, uma vez que a planta começa a perder produtividade logo após o cessar da pluviosidade.”

Na visão de Pedroso, o planejamento de reforma e/ou plantio é o momento ideal para pensar no aporte de irrigação das áreas. “Concomitantemente a escolha das variedades, análises de solo e outras estratégias de manejo, é vital ter em mente se aquele canavial contará com a presença de equipamentos de irrigação, pois à medida que as boas práticas agronômicas vão sendo adotadas, os tramites concernentes à implantação do sistema de irrigação vão acontecendo. Com isso, a cultura já será beneficiada desde os primeiros dias de vida.”

Lembrando que a Netafim é fruto da experiência com a escassez hídrica em seu país de origem, Israel, onde os avanços em irrigação transformaram desertos em lavouras altamente produtivas. Atualmente, a empresa conta com dois tipos de tecnologia de gotejo para cana-de-açúcar. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros (Cantosi ou Meiosi), é possível instalar os tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. Ambas as soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.

Irrigar é muito mais do que molhar o solo. Tecnologia entrega ampla gama de benefícios. Mas é importante se planejar previamente

Áreas experimentais pelo país mostram que a produtividade agrícola da cana-de-açúcar está muito aquém de seu real potencial. A cana de três dígitos não é só possível, mas relativamente fácil de ser alcançada. Um dos principais segredos é parar de viver à mercê das condições climáticas. O famoso jargão “depende da chuva” não pode mais estar na boca dos profissionais, pois com o avanço dos sistemas de irrigação tecnificada, é possível alcançar bons números produtivos mesmo em anos de alto déficit hídrico.

Gotejamento é o método mais eficaz de irrigação, uma vez que seus tubos gotejadores ficam enterrados e com livre acesso às raízes das plantas


 Divulgação Netafim

No processo de planejamento de um sistema de irrigação, a primeira escolha a ser tomada é sobre qual modalidade adotar: superficial (sulcos), aspersão (autopropelidos, pivôs e alas móveis) e a subsuperficial (gotejamento). Por conta de suas características, os métodos superficiais e aspersão são os que possuem as maiores perdas.

Ao serem projetadas no ar, as gotículas de água podem acabar facilmente sendo arrastadas pelo vento – irrigando a área do vizinho - ou evaporadas antes de alcançarem a lavoura. Grande porcentagem pode ainda ficar retida sobre as folhas, não chegando ao alvo principal: as raízes. Por conta disso, a eficiência dessa modalidade gira entre 80% e 85%.

Setor não pode viver à mercê das condições climáticas

 Divulgação Netafim

Por outro lado, a eficiência da irrigação por gotejamento vai de 95% a 100%, uma vez que ela entrega as quantidades ideais de recursos hídricos de acordo com as fases do cultivo, no momento certo e diretamente na raiz da planta, maximizando o rendimento e a economia. Outro ponto positivo da tecnologia é sua capacidade de irrigar a cultura sempre que necessário. Se uma área de 10 meses enfrentar um período de elevada deficiência hídrica, por exemplo, apenas a irrigação por gotejamento conseguirá salvá-la.

Centenas de produtores e usinas pelo país já usufruem dos diversos benefícios da tecnologia de gotejamento, que incluem incremento de produtividade, aumento da longevidade das áreas, estabilidade na produção, maior eficiência no uso da água, elevação da cogeração de energia, diminuição da necessidade de ampliação de área ou novos arrendamentos, redução dos gastos com CTT (Corte, Transbordo e Transporte) e melhoria da pontuação no RenovaBio e, consequentemente, maior geração de Créditos de Descarbonização (CBIOs).

Não adianta pensar na tecnologia de irrigação apenas quando as chuvas vão embora. Sua implantação deve ser definida nos anos com boa pluviosidade e, de preferência, nos momentos de reforma e/ou expansão

Divulgação Netafim

 Após a escolha da modalidade, é essencial se atentar aos períodos de safra e de obra. O especialista agronômico da Netafim, Daniel Pedroso, ressalta que o ideal é iniciar os tramites para instalação da tecnologia nos momentos de reforma e/ou expansão. “É possível implantar esse sistema na cana soca, mas no máximo em um canavial de segundo corte, pois caso instalado em canas mais velhas, todo aquele potencial produtivo das canas jovens será perdido. Haverá aumento de produtividade, mas muito limitado em função da idade do canavial.”

Por fim, Pedroso reforça a necessidade de proatividade. “Não adianta pensar na tecnologia apenas quando as chuvas vão embora e o canavial começar a demonstrar sinais de deficiência hídrica. Precisamos criar uma consciência coletiva de que a irrigação se tornou uma ferramenta indispensável para a produção de cana-de-açúcar no Brasil. E, ao contrário do que muitos imaginam, sua implantação deve ser definida nos anos com boa pluviosidade, para que quando a estiagem bater na nossa porta, estejamos prontos para enfrentá-la.”