Setor prevê maior produção de açúcar, mas garante oferta de etanol em 2016/17
07-01-2016

Os preços mais remuneradores do açúcar devem fazer com que ele ganhe espaço no mix de produção do setor sucroenergético em 2016/17, após três anos em que o etanol concorreu diretamente. O avanço não chegará a comprometer a oferta de álcool, segundo representantes do segmento ouvidos pelo Broadcast Agro. A avaliação é de que a crise econômica no País já reduz o consumo de todos os combustíveis. Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que a demanda pelo chamado Ciclo Otto (álcool hidratado e gasolina C) passou a cair com força nos últimos meses, movimento que deve prosseguir em 2016. No mês de agosto a queda foi de 1,25%, ao passo que em setembro, de 2%, e em outubro, de 3,1%.
CEO da trading SCA, Martinho Ono prevê um aumento de até 1 ponto porcentual na quantidade de cana destinada à fabricação de açúcar, que pode chegar a 43% da produção total.
A "movimentação" citada por Ono é ilustrada pelo hedge das usinas, que se aproveitaram da valorização de mais de 40% do dólar em 2015.
Conforme a Archer Consulting, especializada no setor, a fixação de preços para a safra 2016/17 atingia 13,17 milhões de toneladas em novembro, correspondente a 55,75% da exportação prevista. Em igual período do ano passado o porcentual era de 23,23%.
Números da União da Indústria de Cana-de-açúcar/SP (Unica/SP) estão em linha com os da ANP no tocante ao consumo de etanol. Segundo a entidade, as vendas de hidratado em novembro, embora maiores na comparação anual, diminuíram expressivos 15,56% ante outubro. Em relatório, o diretor técnico da Unica/SP, Antônio de Pádua Rodrigues, reconheceu que "essas estatísticas de vendas indicam um recuo na demanda por etanol hidratado". A taxa do crescimento das vendas do produto ao mercado doméstico era superior a 40% até setembro; alcançou 36,44% em outubro e, em novembro, caiu para 25,15%, comentou.
É justamente esse consumo menor que garantirá o abastecimento, uma vez que a "capacidade de destilação neste ano já ficou no limite", conforme Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro. Principal região produtora do País, o Centro-Sul deve terminar 2015/16 com produção de 28 bilhões de litros do biocombustível.
Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e sócio-diretor da Canaplan, "o que se espera é manutenção do consumo", em torno de 1,5 bilhão a 1,6 bilhão de litros de hidratado por mês. Ele pondera, entretanto, que há outros fatores que podem mexer com essa balança. Carvalho refere-se às especulações em torno de um novo reajuste ou aumento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) na gasolina, atualmente em R$ 0,10 por litro. Estudos feitos ao longo de 2015 mostraram que uma eventual elevação do tributo para R$ 0,60 por litro, valor demandado pelo setor, geraria consumo adicional por hidratado de quase 2 bilhões de litros, para 19 bilhões de litros.
Até o momento apenas a Agroconsult divulgou projeções para o ciclo 2016/17 de cana no Centro-Sul do Brasil. A consultoria espera moagem de 615 milhões a 630 milhões de toneladas, aumento de 2,5% a 5% sobre 2015/16. Quanto aos produtos, a Agroconsult projetou que a produção de etanol tende a crescer para algo entre 27,8 bilhões (+3,6%) e 28,5 bilhões de litros (+6,2%). A de açúcar pode variar de 32,9 milhões (+2,8%) a 33,7 milhões de toneladas (+5,3%).
Esse incremento de produção, entretanto, não deve ser suficiente para reverter o déficit global esperado para 2016, superior a 5 milhões de toneladas, de acordo com consultorias. Trata-se do primeiro déficit após cinco anos de superávit e é isso que dá suporte aos preços do açúcar na Bolsa de Nova York. Atualmente, as cotações oscilam entre 14 e 15 centavos de dólar por libra-peso. Embora representem desvalorização de 10% no acumulado de 2015, esses valores também indicam recuperação, já que em meados do ano atingiram mínimas de quase 10 centavos de dólar por libra-peso. A tendência é de que os ganhos continuem ao longo do primeiro trimestre de 2016, refletindo a entressafra no Centro-Sul do Brasil.