Soja ganha espaço e se torna opção ao plantio de amendoim em áreas de renovação de cana
05-01-2018

O pesquisador Denizart Bolonhezi explica que há espaço no setor canavieiro tanto para o amendoim quanto para a soja

Por muito tempo, o amendoim foi a escolha de muitos agricultores para ser rotacionado com a cana nas áreas de reforma. No entanto, nos últimos anos, uma crescente parcela vem optando pela soja, que tem ganhado força no cenário nacional e passa a disputar acirradamente com o amendoim a preferência dos canavicultores brasileiros.

Os motivos são vários. O pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Denizart Bolonhezi, enumera alguns deles: (1) No cultivo direto da soja é possível diminuir o tempo de espera até o novo plantio da cana. Com o amendoim, são necessários quase cinco meses do plantio à colheita. Já na soja, o tempo é de pouco mais de três meses; (2) Ampla possibilidade de venda do produto. O agricultor não fica atrelado a apenas um comprador; (3) Por ser uma commodity, quem regula seu preço é o mercado internacional, o que abre um leque de possibilidades de negociações para o produtor que pode, por exemplo, vender no mercado futuro; (4) Proximidade do porto, que reduz o frete e aumenta a remuneração;

Entretanto, Bolonhezi explica que há espaço para ambas as culturas, ressaltando que cada uma delas possui prós e contras que devem ser levados em conta pelo produtor. “O amendoim dá mais retorno, mesmo nos períodos em que a soja está com preços altos. Porém, ele é muito específico em relação ao maquinário utilizado. Em termos de benefício para o solo, as duas culturas são semelhantes. O amendoim, por ser uma planta vigorosa, acaba produzindo mais por hectare e, consequentemente, fixa uma quantidade maior de nitrogênio. Por outro lado, ele é bastante exigente, e exporta mais fósforo do que a soja.”

O pesquisador informa que o tipo de solo da propriedade também deve pesar na hora de escolher com qual cultura rotacionar a cana. “Em regiões de solos mais fracos, arenosos e suscetíveis a erosão, o produtor deve escolher uma cultivar de soja muito rústica ou não optar pela cultura, pois a tendência de frustação será grande. Neste caso, o amendoim seria a melhor opção. Já nas áreas de solos mais férteis e argilosos, como na região de Ribeirão Preto, a soja é mais interessante, pois provavelmente atingirá tetos produtivos mais altos.”

Um dos pioneiros na rotação de cana-de-açúcar com soja no Brasil, ainda no final da década de 1970, foi o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues em sua propriedade localizada no município paulista de Guariba. A Fazenda Santa Isabel possui tradição no cultivo da leguminosa e, nos dias de hoje, alcança uma produtividade média de 74,8 sacas/ha nas áreas de reforma de canavial. Um número bastante expressivo e difícil de ser alcançado em solos que, por anos, tiveram seus nutrientes exauridos pelo cultivo da cana-de-açúcar.

De acordo com o atual gestor da fazenda, Paulo Araújo Rodrigues, filho de Roberto Rodrigues, essa alta produtividade se deve aos solos férteis encontrados na propriedade, a adoção da mais alta tecnologia nas máquinas e implementos e utilização de sementes de boa procedência, além de adubação e tratos culturais bem-feitos.

Quando questionado sobre os motivos de preferir a soja em detrimento do amendoim, Rodrigues explica que o amendoim é uma grande cultura, com benefícios agronômicos semelhantes aos da soja. “A vantagem é que, com a soja, conseguimos liberar a área para a cana mais rapidamente. Além disso, é uma cultura de alta liquidez, podendo ser vendida em qualquer lugar.”

Porém, independentemente do cultivo escolhido, o produtor é enfático ao defender a rotação de culturas. “Seja pequeno ou grande produtor, a rotação em 100% da área faz todo o sentido. Não apenas pela renda extra num momento de crise, mas pelos pontos de vista agronômicos e de aproveitamento de mão de obra e recursos.”

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