Soluções para conservação do solo e da água e controle da mosca-dos-estábulos são debatidas em Lençóis Paulista
06-09-2016

Com o avanço da tecnologia na agricultura surgem novos desafios para promover práticas mais sustentáveis e que visam o aumento da produtividade. Essa foi a mensagem do secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, durante a reunião para apresentação das recomendações técnicas de conservação de solo na cultura de cana-de-açúcar e controle da mosca-dos-estábulos, realizada no dia 2 de setembro de 2016, no Espaço Lazer Zilor, em Lençóis Paulista.

Diante de mais de 200 participantes, entre produtores rurais, usineiros, representantes de entidades da cadeia, pesquisadores e técnicos extensionistas dos Escritórios de Defesa Agropecuária (EDA) e de Desenvolvimento Rural (EDR) das regionais de Jaú, Bauru, Lins, Botucatu, Lençóis Paulistas e outras regiões produtoras do Estado, Arnaldo Jardim destacou que com o avanço da a mecanização da colheita da cana-de-açúcar, surgiram novos desafios.

"Antigamente, as queimadas eram um controlador natural das pragas que afetavam os canaviais. Com o fim da prática surgiu a necessidade de adotarmos medidas para conservar o solo e principalmente controlar a proliferação das moscas-dos-estábulos, que estão afetando os rebanhos, principalmente bovinos, prejudicando a pecuária de corte e de leite", comentou o secretário.

Para o titular da Pasta, é preciso manter uma boa sintonia com os municípios para enfrentar os desafios do setor sucroalcooleiro, promover a conservação do solo e da água nas áreas de cultivo e controlar os prejuízos causados pela mosca-dos-estábulos, cuja incidência tem sido mais frequente em locais onde há o acúmulo de resíduos agroindustriais, como a vinhaça e a torta de filtro, associados à palha da cana.

"Em 2015, 92% da colheita da cana-de-açúcar foi mecanizada, e que a expectativa é avançar para 95% nesta safra. A questão que devemos tratar é que esses resíduos, como a vinhaça misturada com a palha deixada no campo, acabam sendo um ambiente ideal para a proliferação dos insetos, que em algumas regiões chegam a atacar até as pessoas", afirmou Arnaldo Jardim.

"Nosso trabalho tem sido o de percorrer o Estado para comunicar, cobrar a aplicação das normas já estabelecidas e aperfeiçoar as práticas. Aproximar o conhecimento gerado por meio da pesquisa do setor produtivo é uma das diretivas do governador Geraldo Alckmin para a Pasta", complementou o secretário.

E o propósito foi atendido, conforme afirmou o usineiro de Fernandópolis Carlos Alexandre Possera. Ele disse que viajou até a cidade com o objetivo de aprender novas práticas para evitar a infestação da mosca-dos-estábulos e para conservação do solo e conhecer as ações do Governo do Estado sobre o tema. "Apesar de não ser um problema em nossa região, precisamos tomar cuidado para que não sejamos atingidos. Por esse motivo em vim participar o evento e levar essas informações para os colegas na usina", disse.

O pecuarista Orlando Martinelli, de Jaú, também participou da reunião para se informar sobre as novas tecnologias disponíveis. "Esse é um problema que nos afeta diretamente, e queremos combater, junto com os produtores de cana-de-açúcar", explicou.


Debates

As mudanças no sistema de manejo da cana-de-açúcar provocaram impacto no solo e isso se relaciona principalmente ao aumento da mecanização, o que passou a ser uma preocupação de todo o setor. Com o acúmulo de resíduos agroindustriais, como a vinhaça e a torta de filtro, o canavial acaba sendo um ambiente ideal para a proliferação das moscas-dos-estábulos.

As condições ideais para o desenvolvimento da mosca são as altas temperaturas, a umidade e a presença de matéria orgânica em decomposição. Apesar de não ter ainda uma solução definitiva, a elevada incidência da mosca-dos-estábulos especialmente na região oeste do Estado, - onde o solo argiloso dificulta a infiltração da vinhaça - exige a discussão e a adoção de ações imediatas para evitar possíveis focos de larvas, conforme orientaram os pesquisadores da Pasta durante palestra sobre o tema.

Para o diretor técnico do EDR de General Salgado, Sidney Ezídio Martins, o controle da mosca deve envolver tanto os produtores como os representantes das usinas. "É importante que a vinhaça seja aproveitada como um subproduto, receba tratamento adequado e não seja apenas descartada como um resíduo do processo", ressaltou

A picada do inseto hematófago causa dor e incômodo, transmite doenças, ocasiona a perda de 15 a 20% de peso do gado e queda de até 60% na produção de leite.

"Os pecuaristas devem adotar boas práticas sanitárias, com a limpeza e remoção de dejetos e resíduos animais; eliminar o uso de cama de frango ou adubos orgânicos nas áreas consideradas de maior risco para o surgimento de larvas e utilizar armadilhas para controle do inseto", explicou Martins.

Para o pesquisador, com a suspensão da queimada é preciso evitar o empoçamento do líquido no solo, visto que a larva se desenvolve no período de 48 horas. Às usinas, o especialista recomenda a escarificação e a subsolagem da palha antes do despejo da vinhaça, bem como promover a manutenção periódica dos sistemas de aplicação da vinhaça; vistoriar as áreas e, se necessário, fazer a drenagem e aplicação de calcário nas poças.

Nesse sentido, o encontro debateu as novas práticas para promover a conservação do solo e uso da água disponíveis no boletim técnico com recomendações de manejo do solo para o setor canavieiro.

Para a pesquisadora científica do IAC, Isabela Clereci de Maria, os primeiros estudos realizados mostram que é preciso buscar a integração das práticas conservacionistas em três estratégias básicas: aumento da cobertura de solo, da infiltração da água, e do controle do escoamento. "Estamos promovendo os debates, para chegar a uma recomendação que atenda a todas as especificidades de cada área", explicou.

O trabalho contou com a colaboração de produtores e técnicos por meio de consulta pública e deverá ser atualizada periodicamente.


Conservação do solo em canaviais

A próxima reunião técnica sobre os temas será realizada em Ourinhos, no dia 16 de setembro, às 9h.

O evento teve ainda a presença do coordenador-adjunto da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, Mario Tomazella; do presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), Eduardo Romão; do diretor-presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Médio Tietê (Ascana), Luiz Carlos Dalben, da prefeita de Lençóis Paulista, Izabel Cristina Campanari Lorenzetti, e da diretora de Gestão e Meio Ambiente da Zilor, Maria Elvira.

Paulo Prendes