Tarifas de Trump podem abrir 'janelas de oportunidade' ao agro brasileiro
04-02-2025

Brasil poderá ter ganhos de exportações — Foto: Marcelo Curia
Brasil poderá ter ganhos de exportações — Foto: Marcelo Curia

Suco de laranja, café, carne suína e frutas do Brasil podem ficar mais competitivos

Por Rafael Walendorff — Brasília

As tarifas de 25% aplicadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump ao México — e que foram suspensas por ao menos um mês após acordo com a presidente mexicana Cláudia Sheinbaum — poderiam abrir espaços para as exportações de alguns produtos brasileiros, como suco de laranjacafé e carne suína, segundo técnicos do governo e especialistas.

As “janelas” de oportunidade também podem beneficiar o setor da fruticultura, já que os Estados Unidos importam muitas frutas do México. “Com a tarifa de 25% sobre os produtos mexicanos, a fruta brasileira vai ficar mais competitiva”, disse Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e consultor na área.

Ele destacou, porém, a instabilidade desse tema para um planejamento de médio prazo para as exportações. “São medidas que podem ser revogadas a qualquer minuto, há um risco de se fazer exportações muito grandes”, completou.

O governo brasileiro ainda não tem uma avaliação oficial sobre possíveis impactos do movimento tarifário de Trump sobre o agronegócio nacional. Técnicos que trabalham com o tema ainda estão fazendo um levantamento mais acurado da situação.

No setor de lácteos pode haver espaço para ampliar exportações devido às barreiras impostas por Trump ao Canadá, mas como a produção brasileira não é muito competitiva no mercado internacional, os efeitos devem ser limitados.

“No restante, é onde o Brasil compete com Estados Unidos, como soja, milho, carnes. Se a China e outros países adotarem retaliação nesses produtos, vai abrir mais mercado para os produtos brasileiros”, apostou Barral.

O ex-secretário e integrantes do governo brasileiro ouvidos sob anonimato avaliaram que o risco de aplicação de tarifas sobre o Brasil existe, mas que as sinalizações de Washington aliviam um pouco as tensões em Brasília.

“Donald Trump falou do Brasil e da Índia, que têm tarifas altas, mas não anunciou nada. Um dado interessante é que o Brasil é um dos poucos países que têm déficit comercial com os americanos. Os EUA têm um superávit pequeno com o Brasil, ao contrário dos demais países contra os quais ele adotou tarifas”, afirmou Barral. “Ele reclamou particularmente por conta de tarifas específicas, como é o caso do etanol. Mas é uma das poucas reclamações que existem em relação a tarifas brasileiras”, afirmou.

Por vezes zerada, a alíquota de importação do etanol norte-americano está atualmente em 18%. Em outubro de 2024, o Comitê de Mudanças Tarifárias (CAT) a Câmara de Comércio Exterior (Camex) rejeitou novo pedido para desonerar a compra do produto.

Um técnico com passagens pelo Itamaraty disse que os ganhos pontuais nas exportações são a única notícia positiva vinda dos EUA atualmente. A dissolução de regras do sistema internacional do comércio, com os ataques de Trump aos organismos multilaterais, é ruim para o agronegócio nacional, disse.

“A mensagem que ele passa para o mundo é que as regras de comércio podem ser jogadas pelos ares segundo a conveniência do governante de plantão”, alertou a fonte, sob anonimato.

Consultado, o Ministério da Indústria, Desenvolvimento, Comércio e Serviços (Mdic) não quis se manifestar por não haver “razões concretas para comentar o tema”.

Fonte: Globo Rural