Tereos aposta em robôs contra ervas daninhas
24-10-2023

A partir da esquerda, Emerson Crepaldi, diretor da Solinfitec, e Carlos Simões Júnior, diretor executivo da Tereos — Foto: Rogério Vieira/Valor
A partir da esquerda, Emerson Crepaldi, diretor da Solinfitec, e Carlos Simões Júnior, diretor executivo da Tereos — Foto: Rogério Vieira/Valor

Francesa adquiriu o Solix, da Solinftec, para projeto em sua principal usina de cana

Por José Florentino — São Paulo

A francesa Tereos anunciou a aquisição de robôs Solix, da Solinftec, para um projeto-piloto na próxima entressafra da cana-de-açúcar. Inédita no setor sucroenergético, a tecnologia ajudará no manejo de plantas daninhas na Usina Cruz Alta, principal unidade de cana da Tereos no país, localizada em Olímpia (SP).

A escassez de mão de obra desencadeou o processo de mecanização da produção de cana no país. Depois das máquinas vieram os equipamentos e sistemas digitais, como os drones e imagens de satélite, que trouxeram ganhos significativos às usinas.

“A gente usou muito IoT [Internet das Coisas, equipamentos que compartilham dados] e sensores para reduzir custos operacionais. Com o robô, falaremos sobre ganho de produtividade do ponto de vista da cana”, afirmou Carlos Simões, diretor executivo da Tereos, à Globo Rural.

A cana-de-açúcar disputa área e luz solar com plantas daninhas nas fases de plantio ou rebrota. Estudos mostram que a infestação pode reduzir em cerca de 40% a produtividade dos canaviais, o que é bastante delicado em se tratando de um setor de custos fixos elevados.

“[Produzir cana] é um desafio maior do que culturas anuais, que você pode consertar o erro um ano depois. Na cana, muitas vezes você paga o preço de uma decisão errada por cinco ou seis anos”, disse o diretor da Tereos.

O robô Solix Sprayer combina sensores e Inteligência Artificial (IA) para identificar as espécies invasoras e aplicar insumos de maneira precisa.

De acordo com o diretor de operações da Solinftec na América do Sul, Emerson Crepaldi, o robô complementa outras soluções de agricultura digital, como o monitoramento via satélite (que, geralmente, só enxerga as ervas daninhas quando elas já formam “manchas” na lavoura) ou drone (que não cobrem grandes áreas).

O custo para importação era o principal impeditivo para a chegada dos robôs à agricultura brasileira, visto que esses equipamentos já são usados no exterior há alguns anos.

A Solinftec passou quatro anos trabalhando no Solix, para que o equipamento pudesse ser o mais barato possível, sem deixar de ser útil. “Sabíamos que precisava ser algo com um custo parecido ao de um trator de pequeno porte que conseguíssemos escalar”, afirmou Crepaldi.

A experiência com a Tereos é a primeira incursão do Solix em canaviais. Mas, em operação durante o pré-plantio da safra 2023/24 de soja, os robôs reduziram em até 90% o uso de agrotóxicos, segundo a Solinftec. Para capturar ganhos como esses, a Tereos está preparando um investimento para ampliar a conectividade em suas usinas.

Segundo Simões, a Tereos trabalha com duas vias de crescimento: utilizar bem as tecnologias já presentes no campo e apostar em inovações, como os robôs e os bioinsumos. “É uma obsessão com o que vai nos levar para o próximo nível de produtividade. Ser pioneiro tem risco, mas nos posiciona melhor para crescer”, afirmou.

Simões observa que a tecnologia está mudando muito rapidamente, principalmente com o uso de inteligência artificial regenerativa para processar dados e gerar informações para a tomada de decisão. “Já estamos atrasados em relação ao que pode ser o futuro”, brincou Simões.

Na avaliação do executivo da companhia francesa, o agronegócio ainda enfrenta falta de infraestrutura e pessoas qualificadas. “Os dados de 50% dos nossos sensores não são utilizados em tempo real por falta de conectividade”, disse. São mil sensores em cerca de 700 máquinas. Em breve, a Tereos deve anunciar um plano para expandir o acesso de internet em suas usinas.

Criada em 2007, a Solinftec acompanhou boa parte do amadurecimento do setor e se tornou líder na oferta de tecnologias para as usinas, com 95% de participação de mercado. No horizonte, a empresa quer adicionar funções aos Solix, como o modo Hunter (caçador em inglês) para captura de pragas.

Fonte: Globo Rural