União entre produtores e polícia ajuda a frear roubos no campo no interior de SP
19-12-2025

Morro Agudo diminuiu os casos em 75% com vigilância solidária e uso de tecnologia; veja algumas dicas de segurança para produtores rurais

Por Paloma Santos | Brasília

Morro Agudo, no nordeste paulista, viu cair de forma significativa o número de roubos na zona rural neste ano. A redução, registrada pela Polícia Civil, é resultado de ações conjuntas entre produtores, sindicato e forças de segurança. Entre 2023 e 2025, os crimes de roubo — que envolvem violência ou grave ameaça contra a vítima para subtração de um bem — diminuíram 75%. 

O município tem uma das maiores áreas territoriais do Estado, 1.388 km², além de cerca de 1.500 quilômetros de estradas de chão e apenas 30 mil habitantes — fatores que tornavam a região atraente para os criminosos e o patrulhamento mais desafiador. 

Para o delegado da cidade, João Baptistussi Neto, a queda dos roubos se deve, principalmente, à aproximação e união entre produtores rurais e as polícias Civil e Militar. “Isso tem dado um resultado bastante expressivo”, afirma. 

O delegado explica que a distância entre sedes de fazenda e o centro urbano era um dos principais obstáculos. “Aqui, a gente tem que andar para certas fazendas uns 50 quilômetros para chegar. E estrada de terra batida não permite velocidade maior”, afirma. A região é dominada pela cultura da cana, o que facilitava ainda mais a fuga dos criminosos.  

Vigilância solidária

Para reduzir o tempo de resposta, o Sindicato Rural criou um programa de vigilância solidária que inclui rotas digitais com geolocalização de todas as propriedades filiadas e grupos de comunicação via internet. Cada quadrante da cidade tem um grupo de Whatsapp, onde produtores, Polícia Militar, Polícia Civil e o sindicato compartilham ocorrências em tempo real. 

No sistema usado, feito usando o Google Maps, cada uma das propriedades possui um cadastro com um código, encontrado nas placas de identificação de cada fazenda. “O policial digita o nome da fazenda e imediatamente é traçada a rota da posição em que ele está”, diz o delegado. Segundo ele, o recurso “facilitou demais o atendimento das chamadas, porque nem todo policial conhece as rotas das lavouras”.

Rotas digitais com geolocalização facilitaram o atendimento da polícia nas propriedades da região de Morro Agudo, no interior de SP.


Foto: Sindicato Morro Agudo

Máquinas agrícolas rastreadas

O presidente do Sindicato Rural, Roberto Carmanhan, destaca também o papel do rastreamento de máquinas agrícolas. Uma parceria feita pelo sindicato com uma empresa de rastreamento reduziu pela metade o valor do serviço aos produtores filiados.  “Hoje, estamos com 280 máquinas e tratores rastreados”, diz. Em um dos casos, o rastreador permitiu localizar os suspeitos e derrubar uma quadrilha que atuava havia anos na região”, ressalta. 

Carmanhan complementa que a segurança é um tema que se tornou prioridade na região há bastante tempo. Além das iniciativas tecnológicas, a diretoria atua, há quase 10 anos, por melhorias na estrutura da segurança pública e atenção às demandas do campo. “A gente tá sempre cobrando. Vai lá fazer ofício, volta, briga um pouquinho, ganha a viatura. Sempre estamos fazendo alguma coisa”. 

Mas o dirigente defende que a união dos produtores foi decisiva. “A união foi o que fez a diferença”, diz. Segundo ele, encontros e cobranças constantes ao poder público ajudaram a ampliar investimentos e colocar Morro Agudo “no mapa da segurança do Estado”.

Comportamentos de risco e como evitá-los

O delegado João Baptistussi aponta comportamentos de risco que favorecem a atuação de criminosos, como o deslocamento noturno de caseiros para investigar ruídos. “É um procedimento errôneo. O ladrão está armado e com superioridade numérica”, afirma. Ele reforça que a orientação é acender as luzes externas, acionar a polícia e observar de dentro do imóvel, sem abrir portas.

Outra recomendação é o armazenamento seguro de insumos. “Às vezes, o pessoal deixa na lavoura, na área onde vai ser usado. Durante a noite, esses insumos podem ser subtraídos”, diz Baptistussi. A orientação é levar tudo para o barracão, mesmo que isso aumente o custo operacional.

Fonte: Estadão