Usinas não conseguem financiar início de safra e falam em custos inviáveis
14-05-2020

As usinas sucroalcooleiras que não estavam com posição confortável de liquidez antes da crise estão tendo dificuldades em acessar novos financiamentos neste início de safra, enquanto as mais capitalizadas chegaram a receber propostas de crédito do BNDES, mas a custos considerados inviáveis.

Na avaliação de fontes de mercado, a crise apenas agravou uma disparidade que já existe no setor, em que 30% têm melhores condições financeiras e acesso facilitado a crédito, enquanto os demais já enfrentam mais dificuldades após sucessivas crises no segmento. No início da crise, usinas representadas pela NovaBio, localizadas principalmente do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, reclamaram de "empoçamento de crédito" e, "nos casos raros de empréstimos, sem a mínima paridade com a queda da Selic, inclusive para riscos considerados muito adequados".

Entre as usinas do Centro-Sul, "em geral, não estão [conseguindo financiamento]", afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Por enquanto, o financiamento das operações da safra na região, que começou em abril, tem ocorrido com capital de giro próprio, decorrente das vendas enfraquecidas de etanol e de açúcar para os mercados interno e externo, disse.

A dificuldade de acesso a financiamentos novos, porém, deve tornar ainda mais difícil a vida das empresas que estavam em situação financeira intermediária e que no início do ano contavam com as perspectivas positivas para os mercados de açúcar e etanol para se reorganizar.

Entre as mais capitalizadas, o acesso a crédito existe, mas muitas vezes a custos mais elevados. No início da safra, o BNDES chegou a oferecer a um grupo seleto de usinas R$ 1 bilhão em novos financiamentos dentro das linhas já existentes, mas nenhuma companhia fechou contratação.

Entre três bancos privados consultados recentemente pelo Valor, apenas um, que preferiu não ser identificado, disse que houve aumento na concessão de novos empréstimos a usinas neste início de safra, em abril, com taxas "dentro da média dos últimos dois anos" e com critérios de seletividade anteriores à crise.

O setor acompanha agora as discussões que o Ministério da Agricultura está capitaneando em Brasília para que o Banco do Brasil crie uma linha de financiamento de capital de giro, amparada pela emenda constitucional que criou o Orçamento de Guerra, que permite compra de títulos privados pelo Banco Central.

A proposta é que a linha seja vinculada aos estoques, em que as usinas ofereceriam como garantia o próprio etanol, através do título CDA/WA. Quando pediram a criação de uma linha de financiamento de estoques, as usinas propuseram custo de R$ 1,50 por litro tanto para o etanol anidro como hidratado. "Quando pedimos esse financiamento, é porque acreditamos que lá na frente o produto vai ter remuneração que vai pagar o custo do financiamento e da certificadora [de garantia]", disse Padua.

Fonte: Valor Economico
Texto extraído do boletim SCA