Usinas: Quando dar um desconto de 75% é a melhor opção para os credores
22-04-2015

A usina de açúcar e álcool Tonon Bioenergia espera que os credores estrangeiros aceitem um desconto de até 75% no valor de face da dívida para que a empresa possa evitar um calote. Para os detentores de bonds, aceitar o acordo pode ser a melhor opção.

Basta observar o que aconteceu com os papéis de empresas do setor no último ano para se dar conta de como as coisas podem piorar. Após interromperem os pagamentos de suas dívidas, o Grupo Virgolino de Oliveira (GVO) e a Aralco Açúcar e Álcool viram o valor de seus títulos despencar para menos de 10 centavos por dólar.

"Considerando o que vimos com a GVO e a Aralco nos últimos tempos, parece um negócio bastante decente", disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC, de Miami. "Os credores podem escolher entre aceitar essa oferta ou ver a empresa entrar com pedido de recuperação judicial e eles ficarem com praticamente zero".

A falta de opções dos investidores ressalta como é precário o estado da indústria sucroalcooleira no país, abatida pelos baixos preços do açúcar, a política que impôs um teto sobre os preços do etanol nos últimos anos e a desvalorização do real, que elevou o valor da dívida em dólar. Desde 2011, 47 usinas fecharam as portas e 70 estão em recuperação judicial, segundo dados da Unica, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar.

Negociações com credores

A Tonon, que tem sede em Bocaina, São Paulo, está pedindo que tanto os detentores de bonds com garantia quanto os sem garantias aceitem o desconto, segundo duas fontes informadas sobre o assunto que pediram anonimato por discutirem informação privada. A transação também poderia envolver um novo empréstimo para a Tonon, que tem cerca de R$ 250 milhões em dívidas de curto prazo com 11 bancos, disseram as fontes.

A Tonon preferiu não comentar as negociações.

A Tonon tem US$ 530 milhões (cerca de US$ 1,6 bilhão) em bonds em circulação. Seus títulos com vencimento em 2020, no valor de US$ 300 milhões, tiveram queda de 78 por cento desde que atingiram o pico em julho e são negociados a 20,9 centavos por dólar.

Entre os detentores das notas da empresa estão a AllianceBernstein e o fundo hedge Gramercy Funds Management LLC, segundo as fontes. Nenhuma das empresas respondeu aos pedidos de comentário feitos por telefone e e-mail.

A GVO está negociando com seus credores uma conversão de dívidas em ações, disse o CEO Joamir Alves na quinta-feira, no evento LatinFinance, em São Paulo. Alves afirmou que a situação de liquidez da empresa é "difícil".

Falência da Aralco

A GVO não respondeu a telefonemas em busca de comentários sobre as negociações com os detentores de bonds. Os papéis da empresa com vencimento em 2018, no valor de US$ 300 milhões, foram negociados pela última vez a 3,5 centavos para cada dólar.

Os títulos da Aralco para 2020, no valor de US$ 250 milhões, foram negociados pela última vez a 9,1 centavos. A empresa está em recuperação judicial.

A Aralco teve seu plano de falência aprovado pela vasta maioria de seus credores após "ser submetida a um processo longo e difícil", afirmou a empresa por meio de sua assessoria de imprensa. "Isso mostra a confiança do mercado nas ações da empresa e em sua capacidade de pagamento".

As dificuldades enfrentadas pelas indústrias também derrubaram os títulos de dívida emitidos pela USJ Açúcar e Álcool. Seus US$ 275 milhões em notas com vencimento em 2019 perderam 50% do valor neste ano e são negociados a 35,2 centavos por dólar. A USJ não está reestruturando sua dívida e tem uma posição de caixa confortável para cumprir seus compromissos de curto prazo, afirmou a empresa por meio de sua assessoria de imprensa.

A Tonon teve sua nota rebaixada pela Standard Poor's na semana passada em dois degraus, para CCC+, sete níveis abaixo do grau de investimento. A agência de classificação de risco prevê que a empresa enfrentará déficits no fluxo de caixa nas próximas safras e necessidades crescentes de refinanciamento, com mais de 90% de sua dívida lastreada em dólar.

"Os investidores querem aceitar um corte de 75%? Obviamente não", disse Wilbur Matthews, CEO da Vaquero Global Investment LP, por telefone, de San Antonio, EUA. "Mas eles têm alguma escolha, considerando esses terríveis precedentes da Aralco, da GVO e de tantas outras empresas agrícolas? Não. Algumas delas nem sequer saem da falência. Essas coisas só se normalizam na Terra do Nunca".