Uso de biocombustível dará mais competitividade
18-12-2014

O mercado brasileiro de transporte reúne características que o diferenciam do resto do mundo. Não bastasse o fato de o Brasil ser um "continental" e a maior parte do transporte ser feita por modal rodoviário, há considerável disparidade regional em termos de desenvolvimento urbano e econômico.

Tal diversidade contribui para a segmentação do setor de terceirização de gestão de frotas que, conforme a região, pode ter foco maior em treinamento e segurança dos motoristas ou manutenção preventiva dos veículos, por exemplo. Não há dúvidas, porém, de que a preocupação com a sustentabilidade torna-se pauta cada vez mais comum entre empresas de médio e grande portes do país.

Se no resto do mundo a preocupação com a sustentabilidade no setor de transportes fica limitada, na maioria dos casos, pela disponibilidade de apenas combustíveis fósseis para abastecimento dos veículos, no mercado brasileiro, torna-se uma vantagem competitiva. É que a possibilidade de uso de etanol em larga escala está totalmente vinculada à diminuição dos impactos ambientais do setor de transportes, na medida em que permite a redução de Emissões de gases de efeito estufa.

O fato é que, apesar de criticado por alguns Ambientalistas devido à produção em grandes fazendas mo-nocultoras, o etanol brasileiro tem um diferencial que praticamente nenhum combustível pode apresentar: segundo o GHG Protocol (programa usado na elaboração de inventários de Emissões de carbono), a emissão de C02 proveniente da sua queima nos motores dos automóveis é considerada neutra.

Isso se dá em razão da cana-de-açúcar absorver montante equivalente de gás carbônico no processo de fotossíntese. A utilização do biocombustível produzido a partir de cana teve início na década de 70, quando o preço do petróleo disparou. Na década de 80, quando houve a normalização do preço da gasolina, o combustível "verde" voltou a perder relevância.

A introdução dos veículos flex trouxe um fôlego novo nos anos 2000. A tendência é que esse uso do biocombustível aumente e a sua vantagem competitiva torne-se ainda mais significativa nos próximos anos. Com a produção de etanol de segunda geração em condições comerciais — a partir da celulose da palha e do bagaço da cana —, as usinas poderão aumentar em quase 50% a produtividade por hectare.

Ou seja, a difusão da tecnologia em larga escala pelos canaviais do Brasil permitirá um crescimento muito significativo na produção brasileira do biocombustível, ampliando a oportunidade de o setor de transportes reduzir as Emissões de gases de efeito estufa. Melhor ainda é que essas Emissões evitadas podem gerar créditos de carbono, conforme metodologia que desenvolvemos a partir da substituição de gasolina por etanol em veículos flex.

Certificada pelo VCS (Verified Carbon Standards), a metodologia já viabilizou a geração de 2.195 créditos de carbono, que devem ser negociados nos mercados voluntários. Esses exemplos nos permitem grande otimismo com o mercado de gestão de frotas.

Ganhos tecnológicos combinados com inovações vão ao encontro da preocupação cada vez maior das empresas com a sustentabilidade de suas ações, e certamente ampliarão o espaço para práticas na área no setor de transportes brasileiro. A tendência é que esse uso do biocombustível aumente e a sua vantagem competitiva torne-se ainda mais significativa nos próximos anos.

Sergio Rego Monteiro Filho - Diretor Institucional e de Sustentabilidade da Ecofrotas