Valor das commodities caem, mas o açúcar se mantém
17-10-2022

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o contrato para vencimento março/23 cotado a 18.82 centavos de dólar por libra-peso, 14 pontos acima do fechamento da semana anterior

*Arnaldo Luiz Corrêa

O açúcar escapou ileso nessa semana de queda generalizada nas commodities, em especial no segmento de energia. O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o contrato para vencimento março/23 cotado a 18.82 centavos de dólar por libra-peso, 14 pontos acima do fechamento da semana anterior, equivalentes a pouco mais de 3 dólares por tonelada. O café levou um tombo de 10%, enquanto o quarteto de energia formado pela gasolina, gás natural, petróleo tipo WTI e Brent, apresentou quedas de 4% a 8%.

A atmosfera global é de desânimo com o panorama macro apontando para uma contínua e preocupante elevação da taxa de juros dos títulos americanos e com a inflação lá e na Europa mostrando os dentes sem trégua. Dessa forma, qualquer perspectiva de crescimento das principais economias do planeta se desvanece. E, para piorar, novos bloqueios ocorrem na China por conta da COVID-19 o que faz com que o maior importador de petróleo do mundo chacoalhe o mercado de energia.

A desaceleração em geral do consumo doméstico, seja pela inflação galopante, seja pelo encolhimento da renda das famílias e seja pela crescente taxa de juros que coíbe tanto o carrego de estoques quanto a sua reposição, pressagia que o cenário para as commodities continuará nebuloso ainda por muito tempo.

A moagem no Centro-Sul na última quinzena mostrou uma queda de 10 milhões de toneladas de cana se compararmos com a mesma quinzena do ano passado. Os 25.3 milhões de toneladas de cana moídos na quinzena passada representaram o menor volume há mais de uma década e meia. As chuvas que atrasaram a moagem e podem empurrar o remanescente de cana a ser moído na safra para março do ano que vem podem causar uma queda no total da safra do Centro-Sul para 525 milhões de toneladas, praticamente o mesmo número da safra 21/22 (523.1 milhões de toneladas).

Enquanto isso, a Índia deve anunciar em breve sua política de exportação para esta safra. O governo indiano deve publicar o volume de exportação em duas tranches, distribuindo um volume imediatamente e o saldo provavelmente em fevereiro/março do próximo ano. Algumas fontes dizem que o volume deve ser baseado em 80% da média de produção dos últimos 3 anos. Isso deve se aproximar dos 8 milhões de toneladas de açúcar. A conferir.

Neste mês de outubro, 800.000 toneladas devem ser embarcadas ainda referentes à safra 21/22 que finalizou recentemente, embora outras fontes apontem para no máximo 150.000 toneladas. Da safra atual, caso a permissão para exportar seja emitida, alguns traders acreditam que o número pode somar 1.7 milhão de toneladas para novembro e dezembro combinados enquanto outros analistas duvidam desse volume e acreditam que ele chega no máximo a 1.1 milhão.

Como não existem planos (nem orçamento) por parte do governo indiano para subsidiar o açúcar neste ano e considerando o ganho inerente à localização do país, mais próximo dos grandes compradores, somado ao fato de a moeda indiana ter se desvalorizado em relação ao dólar, 19 centavos de dólar por libra-peso é um preço atraente para o exportador indiano.

Estimamos o custo de produção de açúcar bruto naquele país em 18.50 centavos de dólar por libra-peso, se descontarmos o prêmio estimado entre 80-90 (apenas para efeito de argumento), isso coloca um chão em NY em torno dos 17.50-18.00 centavos de dólar por libra-peso. Como o mercado de branco na Europa vai sofrer aumento de custo em função do custo da energia (que deve representar entre 10-12% do custo estimado de produção), é razoável assumir que o açúcar bruto deverá ser demandado nesses níveis de 18-18.50 centavos de dólar por libra-peso base NY.

A partir de janeiro e fevereiro, 1.5 milhão de toneladas de açúcar por mês devem ser exportadas pelo país. Como existe uma demanda decente de açúcar branco, o prêmio do açúcar bruto indiano no físico pode ir além dos atuais 80-90 pontos. Mas, isso não mexe necessariamente em NY.

O dólar encerrou a semana valendo R$ 5,3289 se valorizando 2.25% em relação ao real. Com isso, os valores médios negociados em NY convertidos em reais, aumentaram 51 reais por tonelada para a safra 23/24 e 18 reais por tonelada para a safra 24/25. Uma recuperação tímida, mas animadora.

O etanol negocia em média com um desconto de 180 pontos em relação ao açúcar NY no período de entressafra (janeiro-fevereiro-março). Alguns traders estão preocupados com a disponibilidade de etanol anidro nesse período. Mais uma para ser conferida.

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*Arnaldo Luiz Corrêa – diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda