Veja aqui na CanaOnline reinvindicação de produtores de Quirinópolis, GO, à Usina São Martinho e a resposta da empresa
16-04-2024

Foto: Usina Boa Vista, unidade da São Martinho, instalada em Quirinópolis, GO, não produz açúcar, então a cana segue toda para a produção de etanol
Foto: Usina Boa Vista, unidade da São Martinho, instalada em Quirinópolis, GO, não produz açúcar, então a cana segue toda para a produção de etanol

O Grupo de produtores alerta para o desequilíbrio de preços pagos pela tonelada da cana-de-açúcar na safra 23/24 e dos riscos para a sustentabilidade do negócio. O Grupo redige carta com 106 assinaturas e marca manifestação para 18 de abril a partir das 14h00

A CanaOnline recebeu um comunicado de produtores de Quirinópolis/GO informando que a dinâmica de pagamentos da cana-de-açúcar na região onde estão segue o que determina o CONSECANA/SP e considera o histórico de comercialização de produtos originados da cana-de-açúcar em determinado período, que chamamos de Safra.

E que a unidade Boa Vista, do grupo São Martinho, remunera os produtores de acordo a produção da unidade industrial, instalada no município, que vem optando somente pela produção de Etanol. Produto que vem apresentando queda significativa nos últimos meses, principalmente em virtude do aumento da oferta de Etanol de Milho no mercado. Cenário esse que não deve ser revertido, considerando a nova dinâmica do mercado e os investimentos em novos projetos para a produção de etanol de milho.

Considerando a opção estratégica do Grupo São Martinho para a Safra 23/24 (01/04/2023 a 31/03/2024), o fechamento do preço ficou com uma defasagem de mais de 30% em relação ao preço final da safra do CONSECANA/SP, que considera todos os produtos extraídos da Cana-de-açúcar.

Essa defasagem se deve ao histórico de preço e volume de comercialização do

 Etanol na safra 23/24, causando um desequilíbrio na relação contratual entre os produtores da região e a unidade industrial. A atual condição de pagamento inviabiliza a produção de cana-de-açúcar na região, tendo em vista a oportunidade que os produtores têm em optar por outras formas de uso da terra, mais rentáveis no momento.

Diante desse cenário, no dia 15 de março, os produtores protocolaram, junto a Usina Boa Vista, uma carta de alerta para situação, assinada por 106 produtores, somando aproximadamente 45 mil hectares de áreas contratadas pela usina, sendo esses contratos de fornecedores de matéria-prima e parceiros agrícolas.

SEGUE A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO ASSINADO POR 106 PRODUTORES:

Quirinópolis, 11 de março de 2024

À Diretoria de Operações da Usina Boa Vista,

Prezado Sr. Ivan Dalri,

Venho por meio desta carta requerer que seja reestruturada a forma de remuneração entre a Usina Boa Vista e os seus parceiros fornecedores de cana e demais parceiros. O objetivo é que os pagamentos sejam estabelecidos pelo preço a ser fixado do ATR (açúcares totais recebíveis) calculado com base no Mix do Grupo São Martinho, incluindo suas demais usinas, ou vinculando-o ao Consecana-SP, sem qualquer desconto.

AS JUSTIFICATIVAS PARA ESSE PEDIDO SÃO AS SEGUINTES:

- Impacto da Demanda por Etanol de Milho: A crescente demanda por etanol de milho afetou e continuará afetando a sazonalidade dos preços do etanol proveniente da cana-de-açúcar. Para mitigar esse impacto, é necessário um novo mecanismo de proteção (hedge) que se neste momento se dá por meio do açúcar, commodity essa que nos últimos anos devido à queda de produtividade em países como Índia e Tailândia;

- Custo de produção aos Produtores de Cana: Atualmente, os Produtores enfrentam um custo médio de R$ 106,79 (cento e seis reais e setenta e nove centavos) para produzir uma tonelada de cana. Considerando o preço atual do ATR a R$ 0,85 (oitenta e cinco centavos de real) por quilo de ATR, uma tonelada de cana com 135 quilos de ATR vale apenas R$ 114,75 (cento e quatorze reais e setenta e cinco centavos). Essa margem de lucro de apenas R$ 7,96 (sete reais e noventa e seis centavos) não leva em conta os custos tributários e nem de serviços que não estão diretamente relacionados à operação agrícola;

- Desafios para os Demais Parceiros: Os demais Parceiros de terras para a Usina também enfrentam dificuldades. Nos últimos 4 anos, os valores pagos pelo uso das áreas não conseguem mais acompanhar os índices inflacionários (INPC). Assim, entregar o uso das terras para a Usina São Francisco, na mesma região de Quirinópolis-Goiás, representa um acréscimo de pelo menos 30% (trinta por cento) sobre o rendimento pelo financeiro do imóvel. Esses valores já não cobrem sequer a paridade de arrendamento para produtores de soja na mesma área.

Deste modo, solicito que essa negociação seja realizada com urgência, considerando os impactos econômicos e a necessidade de garantir a sustentabilidade dos produtores e demais parceiros.”

As lideranças dos produtores aguardam posicionamento do Grupo São Martinho, por entender que essa demanda exige posicionamento corporativo do grupo, extrapolando a autonomia da Usina Boa Vista.

Como forma de alertar a comunidade sobre o impacto que tal política de preços adotada pela Usina Boa Vista causará na região, HAVERÁ UMA MANIFESTAÇÃO NO PRÓXIMO DIA 18 DE ABRIL, QUINTA-FEIRA, A PARTIR DAS 14H, NA CIDADE DE QUIRINÓPOLIS, de onde o grupo sairá em carreata, composta por produtores, funcionários das propriedades e demais pessoas envolvidas com a cadeia produtiva na região.

A atual situação dos produtores vinculados, contratualmente, à Usina Boa Vista, afeta diretamente a sustentabilidade do negócio para o produtor, que é sustentada pelo tripé Social – Ambiental – Econômico, sendo que o último não está sendo contemplado no atual cenário de preços praticados. Estamos falando em impactos econômicos diretos e indiretos que, consequentemente, afetarão a economia local e o fator social da sustentabilidade, tanto para o produtor, quanto para a unidade industrial.

Entendemos a importância da produção de cana-de-açúcar na região e esperamos por uma solução justa, que reestabeleça a viabilidade da parceria entre produtores e unidade industrial.

ASSINADO: MOVIMENTO INDEPENDENTE DOS PRODUTORES DE CANA DE QUIRINÓPOLIS E A REGIÃO

PROCURADA PELA CANAONLINE, A SÃO MARTINHO EMITIU O SEGUINTE PARECER:

Nota à Cana Online

A São Martinho informa que seus contratos e pagamentos a parceiros e fornecedores de cana seguem o “Sistema Consecana” (Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo), atualmente em processo de revisão, e destaca que qualquer alteração no Sistema/Manual do Consecana será automaticamente acatada pela Companhia. A São Martinho ainda ressalta que seus resultados também são afetados pelo atual preço do etanol e informa que está avaliando alternativas para minimizar esses impactos em suas operações, incluindo a situação dos produtores rurais.

Assessoria de Imprensa

São Martinho