Venda de etanol despenca nas usinas após início de isolamento por coronavírus
16-04-2020

As vendas de etanol hidratado nas usinas do centro-sul do país despencaram na segunda quinzena de março, período que coincide com o início das medidas de isolamento social decretadas em virtude da pandemia do novo coronavírus.

Nos últimos 15 dias do mês passado, as vendas de álcool hidratado --utilizado diretamente pelos carros flex-- foram de 671,81 milhões de litros, o que representa uma queda de 20,81% em comparação com os 848,35 milhões de litros vendidos no mesmo período no ano passado, segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) divulgados nesta terça-feira (14).

Com as pessoas cumprindo quarentena em suas casas ou trabalhando em sistema home office, caíram os deslocamentos entre casa e trabalho ou as viagens a negócio, por exemplo.

A queda se acentuou exatamente na segunda quinzena do mês, já que, considerando-se o mês de março inteiro, as vendas de etanol pelas usinas apresentaram retração inferior, de 12,94% em relação ao mesmo mês de 2019.

No total, as usinas venderam 2,3 bilhões de litros no mês --considerando-se o hidratado e o etanol anidro (que é misturado à gasolina antes de ser comercializado nos postos)--, ante os 2,64 bilhões de litros em março do ano passado.

Outro indicativo da desaceleração do consumo no centro-sul brasileiro é a venda de etanol anidro no mês. Na primeira quinzena, o combustível teve alta de 5,36% nas vendas em relação ao mesmo período de 2019, mas na segunda quinzena o total caiu 12,97%. Com isso, o saldo do mês foi de queda de 4,78%, com a venda de 774, 85 milhões de litros.

De acordo com a Unica, a redução nas vendas feitas pelas usinas "apenas sinaliza o comportamento do consumo". "A queda real na demanda de combustíveis leves em março será conhecida após a divulgação pela ANP [Agência Nacional do Petróleo] dos dados de vendas das distribuidoras", diz comunicado da associação.

Porém, conforme a Unica, o comportamento do mercado do etanol em março contrasta com o cenário de aumento das vendas na maior parte da safra 2019/20, que oficialmente foi encerrada no último dia 31.

A comercialização de etanol no centro-sul alcançou 33,26 bilhões de litros, o que representa crescimento de de 7,08% em relação aos 31,06 bilhões de litros da safra 2018/19.

Desse total, o mercado interno absorveu 31,35 bilhões de litros, enquanto a exportação somou 1,91 bilhão de litros.

Dos 31,35 bilhões de litros, 22,35 bilhões foram de hidratado, que teve alta de 7,02% nas vendas.

Diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues disse, por meio da assessoria da entidade, que "as medidas para conter a disseminação do novo coronavírus e a disputa envolvendo Rússia e Arábia Saudita no mercado de petróleo promoveram uma queda nas cotações internacionais do óleo e uma redução drástica no consumo doméstico de combustíveis".

Por isso, segundo ele, apesar da alta nas vendas na safra que encerrou, o início da atual safra ocorre num "contexto de total incerteza e preocupação", segundo ele.

"As usinas se prepararam para garantir o abastecimento pleno de etanol na entressafra, com níveis elevados de consumo. A mudança abrupta de cenário e a queda da demanda de combustíveis pegou todos de surpresa criando uma situação muito difícil, pois o produtor precisa comercializar etanol para fazer frente aos desembolsos típicos de início de safra", disse.

Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostram que o preço do etanol hidratado praticado pelos produtores em São Paulo recuou 35% em pouco mais de um mês.

Conforme a Unica, se o cenário permanecer como está, usinas podem paralisar as atividades. "Trata-se de um setor essencial para a economia, com a produção de açúcar, etanol combustível, bioeletricidade e, mais recentemente, álcool para desinfecção e assepsia", diz a entidade.


SAFRA MAIOR

A região centro-sul do país processou 589,9 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, o que representou um crescimento de 2,9% em comparação com as 573,17 milhões de toneladas registradas na safra passada.

Desse total, apenas 34,32% da cana teve como destino a produção de açúcar, o menor percentual dos últimos 22 anos. Foram fabricados 26,73 milhões de toneladas, ligeira alta em relação 26,51 milhões de toneladas na safra 2018/19.

Isso significa que 65,68% de toda a cana moída foi destinada à produção de etanol anidro e hidratado.

Já a safra que começou no último dia 1º deverá ter uma ligeira alta no total de cana esmagada e será mais açucareira que a encerrada em março, conforme dados da consultoria Datagro.

Do montante de cana a ser processado pelas usinas do centro-sul, 41,5% devem ser destinadas à produção de açúcar, conforme a consultoria, graças à quedas de produção em países como Índia e Tailândia.

A previsão da Datagro é que a safra atinja 596 milhões de toneladas de cana moídas no centro-sul.

Fonte: Folha de São Paulo
Texto extraído do boletim SCA