Vinhaça localizada eleva eficiência da adubação e reordena o “tabuleiro da produção”
22-09-2025

Tecnologia alia sustentabilidade, produtividade e manejo inteligente do solo, aponta especialista

Por Andréia Vital

A vinhaça deixou de ser coadjuvante. No 19º Encontro sobre Variedades de Cana-de-Açúcar & Novas Técnicas de Fertilização, o consultor Pedro Henrique Cerqueira Luz apresentou a palestra “Vinhaça Localizada: uma estratégia para otimizar a adubação” e defendeu o uso localizado e enriquecido do subproduto como peça-chave no “tabuleiro da produção” — metáfora com a qual resume a necessidade de combinar solo, clima, variedade e operação para que o resultado agronômico e econômico apareça no campo.

Segundo Luz, a vinhaça — fonte de nitrogênio, potássio e enxofre —, quando guiada por ETOECA (Estudo Técnico Operacional e Econômico Ambiental) e por um planejamento de ambiente de produção, contribui para sustentabilidade e produtividade ao sincronizar oferta de nutrientes com a demanda do sistema radicular. O recado é prático: antes de falar em dose e lâmina, é preciso construir o perfil do solo, sistematizar a área e encaixar a variedade certa no ambiente correto.

O especialista estruturou sua apresentação em etapas práticas, que vão desde o mapeamento do solo até a escolha de variedades mais adequadas e a aplicação integrada de condicionadores biológicos.

O ponto de partida é a carta de solos (fertilidade, argila/areia, classes como argissolo/latossolo; caráter distrófico/eutrófico). Em seguida, a carta precisa ser fundida com clima — chuva anual, temperaturas médias diurna e noturna — para gerar o ambiente de produção. “Não basta conhecer o solo, é preciso integrar clima e topografia para definir o ambiente correto. É isso que orienta a tomada de decisão sobre variedades e manejo”, explicou. Para sistematizar as áreas, o consultor destacou o uso combinado de topografia terrestre e drones, possibilitando o plano altimétrico que orienta a correção e a aplicação precisa da vinhaça.

Na prática, a vinhaça localizada deve ser inserida em um conjunto de ações:

Aplicação de corretivos: calcário, gesso e agrosilício S, que fornecem cálcio, magnésio, enxofre e silício altamente solúvel, aumentando resistência da planta contra pragas como broca e cigarrinha.

Condicionadores biológicos: uso de compostos orgânicos enriquecidos com leonardita australiana e micro-organismos via Microgel, favorecendo a vida do solo.

Adubação de plantio de precisão: priorizando fontes de potássio na forma de K+, magnésio, enxofre e boro, além de manejos foliares específicos para zinco, nitrogênio e silício.

“Sem vida no solo, não há sustentabilidade. É preciso construir um bioma equilibrado, onde a ciclagem de nutrientes funcione como numa floresta”, destacou.

Com base em estudos ETOECA (Estudo Técnico Operacional e Econômico Ambiental), o consultor mostrou que a vinhaça localizada permite reduzir custos de fertilizantes minerais, otimizar uso de insumos e ampliar a eficiência agronômica. Além disso, traz ganhos ambientais relevantes, reduzindo riscos de contaminação por excesso de aplicação e promovendo um manejo mais sustentável.

O modelo apresentado demonstra que, em áreas sistematizadas e bem planejadas, a prática pode elevar significativamente os índices de TCH (toneladas de cana por hectare) e ATR, assegurando maior previsibilidade de resultados para o setor.

O consultor reforçou ainda que o setor sucroenergético brasileiro precisa enxergar a vinhaça não apenas como resíduo, mas como insumo estratégico. “Estamos diante de uma mudança de paradigma. A vinhaça localizada é peça-chave para quem busca produtividade com sustentabilidade, aliando ciência, tecnologia e gestão de custos”, concluiu.

O tema, segundo ele, ainda deve ganhar espaço nas próximas safras, à medida que usinas e produtores reconhecem que a competitividade no mercado global de açúcar e etanol dependerá cada vez mais da capacidade de inovar dentro da porteira